Last Updated on: 26th fevereiro 2021, 04:12 pm

O prédio onde Ana Lúcia vive é um dos presentes deixados por Artacho Jurado para a arquitetura da cidade de São Paulo. Situado entre os bairros de Santa Cecília e Higienópolis, o edifício do fim dos anos 50 não apenas atraiu a moradora, como também a inspirou a reformar seu apartamento, usando como base o próprio estilo modernista de sua construção. Na obra, conduzida por Mariana Wilderom e o escritório Sabará Arquitetura, traços industriais também foram adicionados ao projeto, que por fim uniu passado e presente de forma bonita e funcional.

Oito meses foram necessários para a transformação, que acabou revelando outro potencial do apê: o excesso de paredes deu lugar a cômodos bem integrados e, consequentemente, a luz natural passou a chegar com mais facilidade a todos os lados. Para aproveitar o aspecto da claridade, portas de vidro foram usadas na conjugação entre sala, cozinha e escritório, resultando em uma integração aconchegante e prática.

Como queriam uma releitura dos apartamentos modernistas da década de 1950, Ana conta que seus arquitetos realizaram uma espécie de trabalho de arqueologia para embasar as escolhas do projeto. Na cozinha, uma parede de ladrilhos coloridos demonstra a preocupação com a conversa entre o apê e o edifício de Artacho: “Sabíamos que queríamos o ladrilho hidráulico e buscamos chegar em tons de cores que nos aproximassem do projeto original do prédio em um contexto atual”, conta Ana.

Ainda assim, os armários altos e a coifa central indicam que, com harmonia, outros elementos também se somaram ao clima modernista, que não ficou nada engessado — pelo contrário, no apê, tudo parece fluir com naturalidade. A ilha central foi um desejo da moradora, que adora receber amigos em casa e não queria cozinhar de costas para suas visitas; e os armários de marcenaria foram pensados para serem funcionais, com muito espaço para guardar itens e ingredientes.

No quarto, a madeira é bastante presente, atribuindo aconchego e diferentes texturas. Para a psicanalista, as melhores partes do cômodo são a estante e os largos móveis de cabeceira, ambos usados para abrigar sua grande coleção de livros. Os tons clarinhos enfatizam a vontade de transformar o ambiente em um lugar de tranquilidade.

Mas o espetáculo da casa de Ana não para por aí: nem mesmo os banheiros passam despercebidos. “As pessoas gostam muito dos banheiros, especialmente dos ladrilhos e da forma como foram pensados. O maior é muito elegante. É desses para ficar, se banhar, ouvir música e relaxar”, conta a psicanalista. Esse brilho presente em cada espaço traz uma memória da casa de infância da moradora, marcada por ambientes que proporcionam pequenas alegrias íntimas.

Mesmo com a arquitetura e a decoração inspiradoras, Ana sabe que é na interação com a casa que mora o sentido de um lar, por isso pontua em sua própria personalidade os motivos de se sentir tão bem em seu apê. Para ela, o segredo está em sua organização, na forma de manter tudo bonito e funcionando e, é claro, na cozinha cheia, sempre abastecida com muita comida.

Fotos por Maura Mello