Last Updated on: 13th outubro 2021, 10:51 am

Sentado na sala de estar, Fabiano tem uma vista incrível do bairro onde mora e ainda consegue observar quase todos os cômodos de seu apartamento. Essa disposição ampla e fluida é uma referência que vem da infância: “Eu cresci em uma casa com quintal, em um bairro cheio de praças e terrenos baldios em São Bernardo do Campo. Por isso, preciso de espaço para arejar os pensamentos. Me sinto preso em um cômodo pequeno”, diz. Quando se mudou para São Paulo, o diretor de arte fez o possível para chegar a um meio-termo: viver em apartamento, mas sem ambientes compartimentados.  

Há tempos, ele namorava o Edifício São Judas, na Aclimação. “Um dos meus melhores amigos mora aqui na rua e sempre que o visitava, eu parava na esquina para admirar a fachada”, lembra. Até que uma boa coincidência aconteceu: Fabiano soube de um apartamento à venda no prédio no mesmo período em que o contrato de aluguel do imóvel em que morava antes estava chegando ao fim. Ele marcou a visita e se encantou pelo lugar: “Tive sorte, pois o apê era de um casal de arquitetos que havia feito uma reforma radical. Exatamente do tipo que gosto: revelando as verdades do concreto, as falhas dos tijolos e, mais importante, aproveitando ao máximo a utilidade do espaço”. Esse projeto que ele amou é da dupla Giovana Moreli Avancini e André Sant’Anna da Silva, do Estúdio Topázio.

Apesar da grande reforma realizada pelos antigos moradores, Fabiano sentiu a necessidade de fazer alterações para trazer mais vida e cor ao ambiente. Na sala, as persianas que cobriam toda a extensa janela – e davam um ar meio de escritório para o apê – foram substituídas por cortinas de tecido. Um antigo quarto de bebê se transformou no espaço de home office e também sala de TV. Já na cozinha, os armários foram reformados e o piso foi repaginado com ladrilhos hidráulicos em um tom de verde que tem tudo a ver com uma paixão que surgiu na pandemia: as plantas. “Uma das primeiras coisas que fiz ao me mudar foi lotar o apartamento com elas. Estudo e cuido com carinho”, diz. E para ajudá-lo nas transformações de elétrica, iluminação e também nos ladrilhos, ele contou com o toque especial da arquiteta Letícia Silva Grego. 

Apartamento com estilo industrial, cômodos integrados e muita iluminação natural
Apartamento com estilo industrial, cômodos integrados e muita iluminação natural
Uma casa sem nada a esconder
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Uma casa sem nada a esconder
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Outro ponto essencial era a interferência do calor no dia a dia. As tardes no apê eram mais quentes por conta da grande abertura da janela da sala, e Fabiano não é muito fã de altas temperaturas. “Logo que me mudei, chamei um amigo engenheiro para opinar sobre o design térmico do apê, sem compromisso. Ele tratou como desafio e desenhou um projeto de ar-condicionado industrial, que percorre todo o ambiente e harmoniza com a casa”. Quando a reforma terminou, veio a sensação de que valeu a pena investir nessa melhoria.

Na decoração, o estilo industrial do apartamento já veio combinando com o olhar de Fabiano, que assume a parte elétrica exposta em tubulações e todos os detalhes da construção, incluindo as falhas. A formação acadêmica na faculdade o apresentou ao Modernismo e Brutalismo, que viraram referência para ele. “O que gosto dessa linha de pensamento é que não há adornos, nem a preocupação em esconder vigas e eventuais erros que o concreto aparente traz. O lema é: assuma as falhas e aproveite ao máximo a utilidade dos espaços. É uma regra que dita a forma como eu organizo meus objetos, decorativos ou não”. O descompromisso com convenções e etiquetas permite que o diretor de arte experimente novas configurações no apê e não se preocupe tanto, até porque, ele acredita que “a estética nasce como consequência das mentes que habitam aquele lugar. E cada espaço é lindo justamente por refletir a personalidade dos donos, e não por seguir modas”.

Por isso, os detalhes revelam histórias e experiências de Fabiano, deixando tudo muito mais único. A casa é repleta de fotos tiradas pelo próprio pai, um “fotógrafo do corriqueiro”, como o morador define. Além delas, algumas câmeras também guardam a memória de alguém que era apaixonado pela fotografia: “As câmeras que herdei dele não são só itens de decoração na estante: como são 100% mecânicas, estão em pleno funcionamento. A Nikon F2 que tenho aqui era do pai dele, meu avô, comprada em uma viagem ao Japão nos anos 1970. Não há preço para isso”, conta. 

Apartamento com estilo industrial, cômodos integrados e muita iluminação natural
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Uma casa sem nada a esconder
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Uma casa sem nada a esconder
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Uma casa sem nada a esconder
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O cuidado com o lar está na maneira como Fabiano vive nesses ambientes. Seja pelas lembranças que faz questão de expor ou pelos momentos de leitura na sala que são um dos seus favoritos quando está em casa, o morador constantemente desenvolve uma relação afetuosa com os espaços que ocupa. Sem contar que alguns quadros feitos por ele, assim como o design da cama, cabeceira, armário e prateleiras do quarto, demonstram essa preocupação com a identidade do apê, que nunca será apenas uma: “Minha casa carrega tudo aquilo que eu colecionei ao longo da vida. Coisas e vivências. Ela abraça os acidentes, os itens que não ornam, os objetos que enjoei e também os que sonhei em ter. Nossa vida é muito heterogênea e repleta de erros e desejos, não há razão para a casa não ser assim”. 

Texto por Natália Pinheiro | Fotos por Maura Mello