Last Updated on: 17th março 2021, 05:22 pm

“Especialmente em NY, onde raramente as pessoas têm família morando perto, a nossa casa é o maior porto seguro”, conta Gisela — historiadora da arte, educadora, curadora e correspondente da Vogue e GQ Brasil nos Estados Unidos. Para ela, que vive no exterior há 13 anos, a comida brasileira, seus amigos e o cuidado de seu companheiro americano Thomas foram o que a fizeram se sentir em casa desde seus primeiros meses no país, permitindo que se apaixonasse ainda mais por Nova Iorque. Atualmente o casal possui dois filhos gêmeos de 9 anos e, apesar de muito tempo ter se passado, o arroz e feijão de todo dia fazem parte do cardápio da família.

No dia a dia, Thomas é o principal cozinheiro, responsável por preparar a proteína e o feijão, enquanto Gisela ajuda com o arroz e os legumes. “Meu marido ama cozinhar e já se adaptou ao menu brasileiro. A cozinha é sempre a alma da casa, e quando faço jantares aqui, fica todo mundo em volta da ilha batendo papo e petiscando”, diz a moradora. Nesse cômodo, o casal guarda uma peça bastante simbólica: um vaso de cerâmica assinado por Raquel Albarran, artista que trabalha muito a temática de amputações. “Nesse caso, um dos dez dedos em volta do vaso foi amputado. Dei de presente de 10 anos de casamento para o meu marido. Nem tudo é perfeito!”, Gisela brinca.

Como é de se notar, as obras de arte estão espalhadas por todo o lar e são um reflexo da importância do tema na vida dos moradores, já que tanto Gisela como Thomas trabalham nessa área. “Recentemente, Thomas fez um documentário sobre o paisagista holandês Piet Oudolf, que fala muito sobre aprender a ver beleza na feiura. Ver beleza em flores que estão murchando, por exemplo. Eu gosto dessa ideia, de que a beleza não pode ser previsível e que, às vezes, as obras de arte com que mais gosto de conviver são aquelas que a princípio estranhei”, diz Gisela. Aliás, seu interesse pelo assunto é antigo: desde quando trabalhava em galerias no Brasil, ela trocava parte de seu salário por obras que guarda até hoje.

No quarto do casal, bem próximo à sala, a organização é uma prioridade. Como a cama fica de frente para uma parede sem muito recuo, uma coleção de espelhos antigos possibilita que, mesmo deitados, os moradores consigam contemplar os quadros expostos sobre a cabeceira. Já para os gêmeos Otto e Fred, o quarto é um resultado de suas rotinas e lazeres: tem espaço para brincar, carrinhos com peças de montar, uma poltrona entre as camas para a leitura da noite, um piano elétrico para praticarem música e algumas lembranças das viagens feitas para o Brasil.

Para quem é de São Paulo e se muda para NY, as casas grudadinhas umas nas outras podem até parecer estranhas a princípio, mas Gisela aprendeu que, durante o inverno, essa conexão faz todo o sentido, uma vez que os aquecimentos se ajudam. Ela também se adaptou bem à metragem do apê e acha charmoso ter uma varandinha que dá para a copa das árvores e para os backyards dos vizinhos. É quase como ter uma casa na árvore, mas em plena Nova Iorque.

Entre tantas histórias, referências e lembranças, Gisela considera cada parte de seu lar importante para o sentimento de aconchego: “Eu tento cuidar muito bem da minha casa, manter ela sempre em ordem, e aprendi alguns truques com o livro Hygge. Acendo velas toda noite, gosto de comprar flores e sempre tem música tocando. As plantas também trazem um calor. Não conseguiria jamais ser uma minimalista. Tenho até o problema contrário! Falta de espaço na parede pra pendurar mais artes”, diz. Fora isso, ela também acredita no enorme poder de abrir as portas para os amigos. “Parece que isso deixa a casa com uma energia especial –– como se no dia seguinte desse pra sentir um pouco daquele burburinho no ar”, completa. 

Fotos por Felco