Last Updated on: 4th maio 2021, 06:41 pm

O fotógrafo carioca Arnaldo tinha apenas 14 anos quando visitou São Paulo pela primeira vez e se encantou por Higienópolis. Na época, ele ficou hospedado em uma casa perto do apê onde vive atualmente e vários fatores contribuíram para que se apaixonasse pela região: o histórico, a arquitetura, o clima residencial e ao mesmo tempo com muitas opções de cultura, alimentação e lazer…. “O bairro já tinha tudo e eu podia ir a todos os lugares a pé. Era uma realidade muito diferente do que eu imaginava da cidade enquanto crescia no Rio de Janeiro. Até então achava que o carro era sempre necessário, mas não. Isso me agradou demais”, revela.

Essa conexão antiga foi o que motivou o fotógrafo a procurar um apartamento por ali tempos depois, e ele lembra que não pôde conter a expectativa quando o corretor o levou para conhecer um imóvel localizado em um prédio que lembrava muito o edifício onde morou em Copacabana. Mesmo decidido a viver ali, o processo de mudança acabou demorando bem mais do que o esperado. Se, por um lado, problemas na documentação o obrigaram a ser paciente, por outro, a passagem do tempo fez com que ele amadurecesse suas ideias de reforma antes de colocá-las em prática.

“Foi desgastante, mas compensou. Caso contrário, eu provavelmente não teria chegado ao layout atual, pois esse planejamento demandou muitas horas e visitas. Pude pensar livremente, sem compromisso com datas ou prazos”, o morador fala. Ele costumava visitar o apê vazio com seu notebook para ficar imaginando o que iria alterar, que paredes gostaria de quebrar e assim por diante. Foi como um namoro à distância que enfim se concretizou. Por isso, quando entrou em contato com as arquitetas do escritório Sub Estúdio, Arnaldo já tinha em mente as suas demandas e, além disso, estava seguro de que a escolha das profissionais dialogava com o estilo de projeto que desejava.

Na reforma, muitas paredes foram derrubadas, e o fotógrafo não abriu mão de participar ativamente de todo o processo. Inclusive, ele mesmo marretou a grande maioria delas. Para Arnaldo, foi uma verdadeira realização poder dedicar uma semana para viver intensamente o quebra quebra do apê. Durante a obra, a cozinha mudou de lugar e tudo ficou integrado e funcional. O espaço ganhou mais luz natural e versatilidade: “Eu precisava de um lugar que fosse, além da minha casa, um estúdio e um escritório, onde eu pudesse receber clientes e fazer meus trabalhos de fotografia”, conta o carioca.

Seu escritório, por exemplo, cumpre papel de quarto de hóspedes e camarim. E a decoração da casa também segue o estilo minimalista e utilitário: poucas coisas, mas todas com valores afetivos e funcionais, como o banquinho da cozinha, feito a partir de um computador antigo, ou a luminária amarela, construída com uma válvula industrial achada em um ferro-velho.

“As cadeiras vintage assinadas por Jorge Zalszupin foram herdadas de um vizinho. Elas são dos anos 60 e já estão meio rasgadinhas. Em um primeiro momento eu cheguei a pensar em substituir o estofado, mas depois me dei conta de que seria melhor não. Gosto de como elas estão, e já são 5 anos assim”, explica.

Arnaldo capta inspirações em todos os lugares, principalmente em filmes autorais, nos quais sempre repara na direção de arte e nas locações. Essas referências acabam se materializando em seu apartamento na forma de ideias, móveis ou soluções. Para ele, sua casa se torna um lar à medida em que atende a todas suas demandas: pessoais, sociais e profissionais. “Tudo foi pensado por mim nos mínimos detalhes, desde antes da mudança, e, por isso, a conexão é muito forte”, ele diz. Depois de tantos meses namorando o apê e de se envolver tão profundamente com a reforma, não poderia mesmo ser diferente.

Fotos por Maura Mello