Last Updated on: 23rd junho 2023, 03:51 pm

Quantas histórias cabem em um apê de 100 m²? Se depender do pesquisador de arte popular brasileira Renan Quevedo, fundador do projeto Novos Para Nós, a resposta é: infinitas – e seu próprio lar é a prova disso. Com diversas obras cuidadosamente dispostas pelas paredes, no chão ou sobre prateleiras, o espaço revela a sua trajetória, mas vai muito além, trazendo um bonito recorte do legado de grandes artistas nacionais. Parte da sala é dedicada às bonecas do Vale do Jequitinhonha e à cerâmica pernambucana, a cozinha está repleta de peças do artista plástico carioca Getúlio, o corredor tem uma coleção de matrizes de xilogravura de J. Borges, e por aí vai… em todo canto da casa está a história de um artista, um lugar, uma viagem, uma cena.

“Cada uma das obras chegou individualmente, pois foram raros os momentos em que consegui comprar mais de uma por vez. Então quando olho para o conjunto, lembro do esforço que foi reuni-las”, conta Renan, que se apaixonou pela arte popular ao visitar uma exposição em 2012 e, desde então, teve a sua vida transformada por inteiro. “Em 2017, decidi pedir demissão do meu emprego como diretor de arte e fundei o Novos Para Nós, um projeto de mapeamento de arte popular por todo o país. De lá pra cá, rodei mais de 150 mil quilômetros por todas as macrorregiões brasileiras, entrevistei centenas de artesãos com as mais variadas técnicas e dividi essas histórias nas redes sociais”, ele lembra.

Artesanato e arte popular em apartamento com piso de tacos e luz natural.
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Entre tantas idas e vindas pelo Brasil, é em São Paulo que Renan mantém o espaço que chama de lar – um apê antigo com pé-direito alto e piso de tacos. O morador se mudou para o endereço atual porque precisava de mais metragem para acomodar todas as suas obras de arte, já que seu apartamento anterior tinha em torno de 30m2: “Quando entrei aqui, amei a disposição dos ambientes, a carinha de antigo e, pra completar, a janela na altura da copa das árvores. Foi amor à primeira vista!”. Após uma pequena reforma organizada nos mínimos detalhes para que durasse apenas 6 dias, o apê estava pronto, com direito à uma parede derrubada para aumentar a sala de estar, piso restaurado e até mesmo uma estante nova para abrigar sua coleção de cerâmicas. 

“Aqui dentro, tudo começa a partir das obras e, para criar uma organização visual, acabei optando por separar por artistas. Cada um tem um cantinho e, a meu ver, isso dá ritmo à casa”, Renan explica. Entre todas as obras, o morador ressalta as coleções de Ulisses Pereira Chaves e de Noemisa Batista dos Santos, ambos artistas do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. “Infelizmente, o Ulisses já era falecido quando me despertei para a arte popular, mas as histórias que escuto sobre sua figura enigmática, seu senso apurado para os elementos da natureza e as visões que ele transformou em realidade utilizando o barro me deixam fascinado. Já com Noemisa eu tive o prazer de conviver e visitar dezenas de vezes. Uma personalidade doce, acolhedora e gentil. Noemisa narra a vida com a cerâmica, reproduzindo cenas da zona rural – seu trabalho é memória escrita”. 

Artesanato e arte popular em apartamento com piso de tacos e luz natural.
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Enquanto as obras de artesãos se destacam pelo apê, a escolha do mobiliário é quase minimalista e foi pensada para dialogar com as pinturas e esculturas: “Embora não pareça, neste aspecto, sou adepto do ‘menos é mais’. Vou sempre para o mais neutro, o mais discreto, branco ou cru. O tapete da sala de TV, convenhamos, foge da regra”, Renan brinca.

No tempo livre, os amigos são sempre bem-vindos e já sabem que o carro-chefe do anfitrião é o pão de queijo, sempre acompanhado por um café coado na hora. “Gosto de receber pessoas em casa e da sensação de nos sentarmos à mesa para longas conversas. Tento preparar alguma receita que aprendi rodando o Brasil ou saio pelo bairro caçando meus quitutes favoritos. Receber bem para receber sempre!”.

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Já quando está sozinho, Renan gosta de acordar pela manhã, abrir todas as janelas e tomar um banho quente para começar o dia. Só então ele prepara o café da manhã e se senta à mesa, onde passa grande parte do tempo enquanto trabalha: “Entre as pesquisas, almoço e jantar, observo os diferentes cantinhos da casa. Aqui é onde eu mais me sinto confortável no mundo inteiro. Os detalhes me fazem descansar a vista, acomodar a cabeça. Gosto de olhar para cada uma das peças o tempo todo. Ver as miudezas, me perder nas cores e nas formas, e enxergar beleza nas possíveis ‘imperfeições’. É uma casa que em tudo conta a minha história”.

Texto por Yasmin Toledo | Fotos por Felco