Last Updated on: 16th agosto 2021, 06:01 pm

Uma cidade cheia de vida, mas que ainda mantém sua escala humana. É assim que a jornalista portuguesa Ana Dias Ferreira define o lugar onde nasceu e desde sempre morou: a encantadora Lisboa. “Tive a sorte de trabalhar muito tempo na revista Time Out Lisboa, e nesse período apaixonei-me ainda mais pela cidade. Lisboa foi geograficamente abençoada: em um instante estamos no centro histórico, em outro na praia, em outro no verde mágico de Sintra. Não admira que estejamos a atravessar o maior boom turístico de sempre”, ela fala. Mesmo com todo o agito, no bairro Campo de Ourique, onde ela vive atualmente ao lado do professor universitário Jorge Vieira, a relação com a vizinhança continua sendo algo pessoal. É possível cumprimentar os vizinhos e os lojistas, ir ao mercado, ao jardim, ao parque infantil, à padaria, ao cinema e à ótimos restaurantes – tudo sem ter que usar o carro.

“Eu moro nesta casa há nove anos, o Jorge juntou-se há seis. Lembro-me perfeitamente do dia em que vim vê-la pela primeira vez e de ficar maravilhada desde logo com a luz. Foi no verão, estava muito sol, e o espaço já estava vazio, todo branquinho”, ela conta. A arquitetura também despertou rapidamente o interesse de Ana. Os tetos trabalhados originais foram preservados, as portas são de madeira, o piso é de tábua corrida e o pé-direito é alto. Além disso, ela adorou o fato de uma das laterais do prédio dar para os quintais dos vizinhos – ou seja, mesmo estando no centro da cidade, não se ouve barulho de carro, apenas os pássaros. Outra coisa que surpreendentemente contou como um ponto positivo foi a ausência de cozinha no projeto. Como Ana queria muito montar uma cozinha a seu gosto, ela achou instigante ter a chance de começar o ambiente do zero.

O antigo proprietário do apartamento é um conhecido arquiteto português, então Ana acabou herdando a reforma realizada por ele. Ela adorou as mudanças que haviam sido feitas no projeto, principalmente a integração de um dos quartos, que foi aberto e se transformou na sala de jantar ligada ao estar. Mais importante ainda foi que o arquiteto conservou as características originais do prédio, erguido provavelmente no final do século XIX ou comecinho do século XX. A construção é tão antiga que tem uma curiosidade: nas primeiras plantas nem havia banheiro no interior, ele ficava em uma das varandas.

Ana diz que não é difícil encontrar imagens inspiradoras de decoração hoje em dia, mas ao invés de seguir as referências a dedo, ela busca, acima de tudo, se rodear de objetos especiais. A jornalista possui muitos móveis e itens de família com valor afetivo, porém seu trabalho também influencia bastante no clima e nos acessórios escolhidos para a casa. Editora da revista Observador Lifestyle, dedicada ao melhor da criatividade portuguesa, Ana está sempre conhecendo novas marcas interessantes, ilustradores ou designers, então acaba levando algumas dessas peças para compor seu lar.

Ilustrações e livros estão entre seus temas preferidos, e é possível perceber esse interesse refletido na casa. As paredes trazem diversas gravuras emolduradas, mas muitas delas ficam guardadas para que a moradora possa revezar de tempos em tempos. Os livros foram acomodados de forma inteligente em estantes sob medida na sala e no corredor. “Um móvel muito simples, branco e reto, que ganha vida e cor com as lombadas”, ela diz. As plantas e os vasos são mais um xodó. Ana brinca que nenhum dos vasos é igual ao outro, dos mais simples aos mais inusitados – praticamente uma coleção.


Muitos dos itens de afeto da casa pertenceram ao avô materno de Ana: a mesa da sala de jantar; o móvel-bar; a aparelhagem de madeira; o saca-rolhas em forma de âncora; as máquinas fotográficas antigas e a filmadora. “O meu avô viajava imenso, gostava de ir a bons restaurantes, de ir ao teatro— foi o primeiro que me levou a um bailado no São Carlos, eu era tão miúda que adormeci — e para além de livros e de fotografia, tinha uma coleção inacreditável de embalagens de fósforos. Algumas têm formatos muito originais, como aquela dinamite que tenho em uma prateleira do móvel grande da sala. São embalagens lindas que acabam por ser uma espécie de história do design de meados do século XX e que também vou integrando na decoração”, ela explica.

O lar de Ana e Jorge é um desses lugares onde cada detalhe parece ter uma história ou algo de especial. Na arquitetura, não faltam elementos apaixonantes – incluindo a varanda com vista para o bairro. Na decoração, tudo é importante. A moradora adora o pôster que está entre as duas janelas da sala, por exemplo, pois foi um presente surpresa de Jorge e é uma edição especial de um cartaz do filme O Meu Tio, de Jacques Tati. Bem longe da ostentação, a casa deles é recheada de tesouros assim, de coração. * Não perca o próximo capítulo para conferir outros espaços lindos do apartamento!

Fotos por Alessandro Guimarães

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