Last Updated on: 15th maio 2021, 05:19 pm

A decoração faz parte do nosso dia a dia, por isso conseguimos enxergar ideias interessantes em quase todo lugar, inclusive em ambientes de trabalho. Depois de perceber que esses espaços também tinham suas histórias pra contar, decidimos lançar uma seção chamada POR AÍ. Além de mostrar onde pessoas talentosas trabalham ou produzem suas criações, vamos falar sobre a carreira de cada uma delas…

É fácil reconhecer o trabalho cuidadoso de Evelyn Tannus. Ao longo de sua carreira a artista conseguiu desenvolver não somente uma, mas diversas marcas registradas: mãos de porcelana com tatuagens, cachorros estampados, vasos em formatos inusitados… “Mesmo variando sempre e criando novas coisas, vejo que meu trabalho já tem um carimbo, uma identidade própria. Minhas peças são um reflexo de quem eu sou.”, define ela. O ateliê de Evelyn, instalado em uma das salas comerciais de um sobrado no bairro Santa Cecília, também traz à tona sua personalidade.

“Sou uma esponja. Coleciono muitas referências e absorvo tudo, por isso quando sento para criar normalmente já tenho algo em mente.”

Apaixonada pelo universo artesanal desde adolescente, Evelyn se formou em Licenciatura Plena em Artes Plásticas pela FAAP e logo após a graduação começou a desenvolver criações autorais. Na verdade, a vocação para mexer com tintas e pincéis e a habilidade com as mãos vinham de longe, então a faculdade foi uma forma de autenticar esse talento nato e descobrir outros horizontes. Conforme suas peças foram ganhando mercado e seu nome passou a ser reconhecido, a artista percebeu que estava na hora de criar sua própria marca.

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Durante a infância de seus filhos Evelyn trabalhou em um dos quartos de seu apartamento, porém com o tempo a necessidade de se organizar em um lugar maior falou mais alto. Mesmo mudando de endereço ela fez questão de manter-se nas redondezas, então o ateliê fica a apenas alguns quarteirões de sua casa. Repleto de livros, moldes, tintas e muitas peças de acervo, o espaço resume a trajetória de sua dona através da decoração despretensiosa. A artista brinca ser uma compulsiva visual, por isso gosta de estar sempre de olho na moda, nas tendências do design, nos livros de arte, em tatuadores bacanas, no cinema, na música… Cercada dessas referências, o que não lhe falta é inspiração para começar novos projetos.

“Ter um espaço físico nem sempre é o grande diferencial para um artista. O que vale mesmo são as ideias.”

A maioria dos móveis usados no ateliê acompanha Evelyn há anos ou veio de sua casa, então cada um deles tem sua história. O cavalete, a mapoteca e a cadeira antiga de madeira que fica perto da estante estão com ela desde o seu primeiro ateliê, ainda na adolescência. Já o armário verde, hoje abrigo de centenas de pigmentos e potes de tinta, serviu de guarda-roupa para seus filhos quando eles ainda eram bebês. Batizado carinhosamente de aquário, o gabinete com portas de vidro é uma relíquia que foi garimpada em uma loja de São Paulo. Mais do que a função prática ou a estética, existe uma ligação emocional da artista com essas peças de mobiliário: “Todas vieram para o ateliê porque não consigo me desfazer delas.”.

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Segundo Evelyn a cerâmica muitas vezes parece ter vontade própria. Além de ser uma matéria-prima extremamente delicada, a queima, que envolve química e temperaturas exatas, costuma reservar algumas surpresas – nem todas agradáveis, é claro. Com os anos de experiência e inúmeros testes de cor catalogados, a artista consegue controlar melhor os resultados, porém às vezes o material teima em querer sair diferente do previsto. Apesar de se identificar mais com a cerâmica e a porcelana, ela diz que quando se pinta, qualquer coisa é suporte: papel, tecido, madeira…

Multifacetado como a própria autora, o trabalho de Evelyn Tannus é uma extensão dela mesma. “Pinto o que gosto: cultura urbana, iconografia, santos, tatuagens… Também sou uma mulher de fases, meio bipolar. Gosto do colorido, mas amo preto e branco. Gosto de coisas novas, mas sou fiel a outras que jamais deixei de gostar. Esse contraste se reflete no trabalho e faz dele único.”.

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Fotos por Rafaela Paoli