Quanta personalidade cabe em uma quitinete de 30m²?

Last Updated on: 4th março 2024, 09:50 am

O desejo por mudança pode ser uma força que nos estimula ao movimento. No caso do fotógrafo Derek Mangabeira, após o término de um relacionamento e de viver por um tempo sozinho em um apartamento bem grande no Rio de Janeiro, a escolha foi por uma renovação total: e se ele aproveitasse o desejo de se mudar para um apê menor e considerasse também uma troca de cidade? Foi o que ele fez, embarcando para São Paulo na companhia de seu maior companheiro, o cãozinho Garu. Já em terras paulistanas e decidido a viver em poucos metros quadrados, ele se apaixonou por um apartamento estilo quitinete que tinha piso de cimento queimado e potencial para abrigar sua história, ainda que muitos pertences precisassem ficar de fora.

Mas até onde vai o desejo pelo novo? Para Derek, que é um dos idealizadores da loja de itens garimpados Archivo, foi importante entender a linha tênue entre o contexto, que o convidava a testar diferentes formatos, e a sua mesma essência de sempre, constante e reconfortante:

“O ponto de partida para decorar o apartamento foi o oposto de como ele está hoje. Quando vi aquele chão de cimento, o contexto de estar me mudando para São Paulo, a vontade de dar uma guinada na vida, tudo isso me fez querer um design que fosse mais industrial, modernoso, minimalista… Mas a verdade é que esse não sou eu, e, em menos de um mês eu já estava fazendo parede de galeria, sobrepondo tapetes e pintando listras. A partir do momento que eu entendi que não conseguiria vencer a minha vontade estética, eu abracei 3 conceitos que nortearam a construção do espaço: wabi-sabi, naif e caloroso”.

Com mais assertividade sobre seus gostos e desejos para o apê, Derek soube aproveitar ao máximo o fato de essa ser a sua primeira vez morando realmente em um espaço só seu, onde pode exprimir toda a sua personalidade através da decoração. Para celebrar essa possibilidade — e de quebra minimizar os gastos com a casa – muitas soluções foram feitas com suas próprias mãos, desde instalações de móveis até as intervenções criativas com tinta pelos ambientes.

Às vezes as coisas não saem exatamente do jeito que eu imaginava, mas isso é algo que eu acabo gostando, porque acrescenta uma camada de história àquele espaço ou peça

Entre as ideias preferidas da casa, o morador destaca as listras do armário, que deram nova roupagem a um mobiliário antes sem muita graça, e os quadros presos a ele. E por falar em quadros, vários deles se espalham pelas paredes, formando uma coleção extensa, mas que tem seus destaques, como as obras da bailarina e das mulheres, que foram pintadas pelo pai de Derek quando era mais novo; o retrato feito pela sua irmã e as ilustrações de pássaro assinadas pelo seu ex-namorado.

É claro que não faltaram estratégias para aproveitar cada metro quadrado: prateleiras e escaninhos oferecem armazenagem e deixam o chão livre; móveis com estruturas mais finas e formas orgânicas ajudam na circulação e na sensação de leveza; e o espaço embaixo da cama é o cantinho mágico onde objetos menos jeitosos encontram seu lugar para que a casa esteja sempre em ordem. Com menos metragem, manter uma rotina organizada também passou a ser uma prioridade para o fotógrafo:

“Assim que chego do passeio com o Garu, que é a primeira coisa que faço no dia, eu me dedico a resolver tudo o que ficou desarrumado da noite anterior. Além disso, tento sempre lidar com os problemas assim que eles aparecem: sujou, lavou; tirou da máquina, vai pro cabide; levantou da cama, arrumou o lençol”, explica.

Com uma mudança de cidade como pano de fundo, Derek fez de sua pequena casa um porto seguro onde pode se reconhecer e se abastecer com sua trajetória e identidade. “Acho que a beleza das coisas está na história delas. E mesmo que seja um apê novo, alugado, a gente pode levar nossas memórias lá pra dentro, com as nossas coisas, a nossa disposição do espaço, nossas opções estéticas e práticas; tudo isso conta e faz a casa se inserir numa história maior que não começou e não vai terminar nela”.

Texto por Yasmin Toledo | Fotos por Leila Viegas