Last Updated on: 21st dezembro 2022, 05:54 pm

Um compositor de espaços e colecionador de objetos – essas são algumas facetas do Fernando Ribeiro Fernandes, que atua como arquiteto e designer, e é sócio no f.studio. A ideia de lar para ele não é uma espacialidade estática, mas aquilo que escolhe transportar nas diversas mudanças de endereço e faz lembrar a sua essência ou das pessoas que marcaram sua vida. Além disso, para se sentir verdadeiramente acolhido, não podem faltar música, café, cachaça, queijo e, claro, o gato Heitor, que o acompanha há 11 anos.

Fernando nasceu em Salvador, Bahia, mas foi criado com os pais e a avó paterna em Juiz de Fora, Minas Gerais. Ele confessa que muitos dos seus costumes e inspirações vêm desse período da infância, vivido em ambientes cheios de móveis portugueses e objetos com valor sentimental. Provavelmente daí também tenha emergido a extrema admiração por História, suas camadas e vestígios singulares: “Olho sempre com muito respeito para o tempo das coisas”, diz.

Apartamento de arquiteto mobiliado design contemporâneo
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Na fase adulta, Fernando morou em Buenos Aires, no Rio de Janeiro e, há 4 anos, está em São Paulo. No começo de 2020, quando decidiu deixar um imóvel bastante espaçoso no bairro Sumaré, um dos primeiros lugares que visitou foi este apartamento, de 86m², na Barra Funda. O arquiteto afirma que a luminosidade que entra pela cozinha, junto com o piso vermelho, despertaram sua atenção: “Vi ali um ambiente que trazia de alguma maneira uma atmosfera de casa, com a possibilidade de ter uma mesa de jantar confortável”, detalha. Também pensando na luz e na fluidez dos espaços, realizou algumas adaptações na planta original: “O apartamento tinha um corredor fechado com uma porta central para acessar a sala. Demoli as paredes e mantive os fragmentos – um pedaço de parede e os alizares da porta – marcando visivelmente o seu passado”, explica.

Atualmente pintado de verde e com muitos adornos expostos, este espaço de circulação de repente revela um quadro em movimento: uma pequena janela se comunica com a cozinha e funciona como passagem para drinks e petiscos. O morador diz ter memórias de passar muito tempo nesse cômodo, desde pequeno, com a família, além de adorar cozinhar. Quando recebe convidados para papos descontraídos e festinhas, as movimentações se concentram nesta parte do apartamento. No dia a dia, ele aproveita para fazer suas atividades de home office na mesa de jantar, enquanto a sala principal é usada para descansar – seja tocando violão, ouvindo discos de vinil ou observando as pessoas no Minhocão.

Apartamento de arquiteto mobiliado design contemporâneo
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Fernando deseja que seus amigos e familiares se sintam à vontade para se aventurar pelo lar, sem muitas regras: “Eu acredito que minha casa tem várias peças, objetos e móveis que despertam curiosidade e viram assunto”. Sobre os itens decorativos, a maior parte vem de sua bagagem primordial, de todas as casas em que viveu: “Tenho a necessidade de me envolver com móveis e objetos que tragam sentimentos e recordações. São pertences que venho trazendo e ressignificando ao longo da vida e tudo tem um sentido de estar ali”, conta.

As luminárias foram garimpadas em feiras do Bixiga, com amigos, enquanto boa parte do mobiliário e pormenores resgata os laços sanguíneos: a mesinha que está no banheiro, por exemplo, é de quando morou em Juiz de Fora e transmite lembranças de seus pais, que permaneceram na cidade. Alguns totens de madeira sempre acompanham Fernando e são considerados elementos de muita força, porque pertenceram a sua avó materna, da Chapada Diamantina, Bahia, e o conduzem para esta parte da sua ancestralidade. Um quadro, que é uma matriz de xilogravura, tem o seu pai estampado com o nome de uma antiga banda, e há também uma estante, herdada de um tio, que atualmente abriga mais um monte de pertences únicos e especiais, desde fechaduras até pedras vindas de lugares relacionados aos seus antepassados.

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Muitas peças foram projetadas pelo próprio morador junto a seus sócios. Ele afirma que, para se mudar de uma casa grande para este apartamento, a questão da proporção foi determinante, atrelada à possibilidade de mover e flexibilizar componentes, já que está sempre arrumando a casa de um jeito diferente, buscando novas combinações, funcionais ou cenográficas. Dentre os móveis assinados pelo f.studio estão: a mesa Hector (em homenagem ao seu filho felino), o carrinho Ambulante, os bancos Urbe e Grid, as prateleiras Folds, a estante Dots e o aparador Mies (primeiro móvel desenhado pelo estúdio e que hoje acomoda sua vitrola na sala). Além disso, um pouco antes da pandemia, o arquiteto aprendeu a técnica de tecelagem com um amigo vizinho e esta se tornou uma verdadeira paixão. Deste talento manual, vieram o tapete do corredor e algumas tapeçarias penduradas pelas paredes.

Apartamento de arquiteto mobiliado design contemporâneo
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Seu processo criativo é diário, entre erros e acertos que levam à evolução dos desenhos e podem gerar resultados surpreendentes. Os princípios de vazio e cheio guiam o desenvolvimento dos projetos enquanto as ideias vêm de todos os lados: “Busco inspirações fora do ambiente de trabalho, tenho muitas referências urbanas, rurais, familiares e musicais”, explica. Além disso, nos espaços que concebe, combina artefatos antigos e contemporâneos e gosta de estimular os devaneios: “Desenho histórias com peças físicas e penso em como elas podem levar as pessoas a lugares imaginários, confortáveis e funcionais!”, relata. Em seu lar, Fernando expressou um olhar minucioso e aconchegante em que tudo carrega significado, tanto de maneira sentimental quanto em seus diversos usos.

Texto por Estela Novaes | Fotos por Felco