Last Updated on: 11th maio 2021, 06:41 pm

Desde 2015, Londres é o lar de Fernanda e Rafael, dois brasileiros que se mudaram para a Inglaterra para fazer mestrado e decidiram não voltar mais – ou pelo menos não por enquanto. Ela é arquiteta e urbanista, ele é designer gráfico e animador, e ambos se apaixonaram pela cidade, então não foi à toa que eles a escolheram como sua morada. Fernanda diz que não é difícil se sentir em casa em Londres, afinal é um lugar verdadeiramente internacional. “São diversas culturas e religiões, pessoas vindas de todas as partes do mundo e com tantos backgrounds diferentes. Isso se reflete em tudo por aqui: na música, na comida, nas exposições, nas interações entre as pessoas…”, fala.

Na época em que Fernanda e Rafa se mudaram para o país, eles chegaram a dividir apartamento com um casal de amigos, mas depois de um ano bateu a vontade de encontrar um espaço só para eles. A busca começou pelo Barbican Estate, um conjunto habitacional de estilo brutalista erguido em uma área que havia sido muito bombardeada durante a Segunda Guerra Mundial e foi reconstruída praticamente do zero. “Como arquiteta, eu estava obcecada pela ideia de morar no Barbican, mas um corretor insistiu para me mostrar este apê no Golden Lane Estate, com projeto dos mesmos autores, o escritório Chamberlin, Powell & Bom”, a moradora lembra. Assim o casal encontrou um lar com uma história muito interessante, como Fernanda tanto queria. “O trabalho desses arquitetos foi muito influenciado por Le Corbusier e estes dois conjuntos são listados como patrimônio histórico por sua importância arquitetônica”, completa.

O apartamento tem apenas 40m², mas consegue parecer maior porque conta com um pé-direito alto e um layout modernista, onde os espaços são integrados e confortáveis. A iluminação natural também era importante, já que na cidade o inverno é longo e de pouca luz – em dezembro, por exemplo, só amanhece depois das 8:00, e por volta de 15:00 já está anoitecendo. Na época da mudança, o apê não estava muito bem conservado, porém com poucos ajustes Fernanda o deixou pronto para recebê-los.

“Quando viemos visitar o apartamento pela primeira vez, foi um desastre. É quase inacreditável, mas ele estava muito caído, sujo, com móveis horrorosos e em mau estado. As janelas estavam todas grampeadas (literalmente!) com tecido blackout. A verdade é que nós enxergamos potencial na arquitetura e na nossa criatividade”, eles contam. E olha que nem precisaram reformar, apenas revitalizaram os ambientes retirando os tecidos que tapavam as janelas, realizando limpezas intensas e trazendo novos móveis – além de seus itens pessoais, é claro, que sempre adicionam algo de interessante à decoração. A maioria dos detalhes e desenhos originais do projeto foi mantida, como as luminárias fixas, as maçanetas, as janelas… o apê precisava de pouco para ficar gostoso.

Fernanda e Rafa lembram que alguns móveis foram comprados e outros a moradora fez durante os workshops de seu mestrado – e isso sem contar os itens herdados de amigos que estavam de mudança. Amostras de madeiras, pés de metal garimpados em caçambas da faculdade, protótipos… nada escapa ao olhar criativo da arquiteta. Já os objetos são um compilado de tudo o que o casal foi adquirindo em viagens pela Europa ou em Londres mesmo. Do Brasil, pouca coisa foi levada, apenas o que cabia em uma mala de roupas, mas presentes de amigos trazidos de várias partes do mundo têm espaço garantido entre as prateleiras: a sardinha da Vista Alegre; a andorinha azul; alguns postais; as bonecas Matrioska vindas da Rússia; as câmeras Leica, uma de cada um, e por aí vai.

Para o casal, o grande desafio do apê é driblar a falta de espaço – principalmente para guardar as coisas. Por isso, todo centímetro é otimizado: a cama box é um grande baú, o sofá tem um compartimento de estoque e as roupas que não estão sendo usadas na estação ficam dentro das malas de viagem. “Os imóveis compactos como o nosso são uma realidade por aqui, e desde os anos 50 já se pensava nisso. Uma coisa interessante nos edifícios residenciais de Londres é que todo prédio oferece diferentes tamanhos de apartamento para acomodar diversos tipos de família, faixa etária e poder aquisitivo em um mesmo condomínio, promovendo maior interação e troca social entre os grupos de pessoas”.

Fotos por Maura Mello