Last Updated on: 27th outubro 2025, 10:06 am
Essa história faz parte de uma jornada que sempre sonhamos em fazer. Com o projeto Histórias Brasil Adentro, estamos finalmente na estrada, percorrendo as cinco regiões do país para descobrir e celebrar os múltiplos jeitos de morar que só o Brasil tem. Cada matéria desta série é uma parada em busca de casas com alma, que falam sobre pertencimento, memória e identidade. Seja bem-vindo à nossa viagem!
Sem dúvida, uma casa revela muito mais do que o estilo de vida de alguém. E quando essa casa está fincada em Belém do Pará, a sensação de pertencimento se torna imprescindível. No lar do artista visual e curador Henrique Montagne, a identidade não se curva ao que o resto do Brasil padronizou como “brasileiro” – aqui cada detalhe transborda um orgulho paraense, uma energia calorosa que insiste em mostrar a beleza que o país teima em não ver.
“Eu cresci minha infância e adolescência nos bairros da Condor e Jurunas, ambos bairros periféricos da Zona Sul da capital. Sou um homem indígena urbano, caboclo, mas mantendo minhas raízes diretas da região do Tapajós e também daqui de Belém. Isso sempre se perpetuou como uma resistência nas minhas origens, por mais que vivamos na “modernidade” e urbanidade, eu trouxe isso dos meus avós: o amor pelas culturas tradicionais e pela nossa ancestralidade. Eu vivo Belém com esse olhar, sou apaixonado por essa cidade, pois esta é a minha terra, a terra do meu povo”, conta Henrique.

Desde a arquitetura original, que é um verdadeiro legado da história da cidade, até as receitas preparadas diariamente pelo casal, tudo no apartamento remete às referências pessoais e artísticas do morador e de seu companheiro, Átila Ximenes. E é aí que esse “suco de Brasil” ganha novos ingredientes. Isso porque Átila é cearense, nascido em Fortaleza, mas com raízes familiares no sertão e no Cariri. O comunicador socioambiental traz para essa mistura a identidade nordestina que nunca o deixou, mesmo após uma década vivendo em outras partes do país.
Antes de conhecer Henrique, Átila conheceu Belém. E, para ele, desde então essa conexão foi imediata. Ao visitar a cidade pela primeira vez, em 2009, Átila foi um dos que soube “ver”: encantou-se de cara com a efervescência cultural, a gastronomia e as pessoas. E sua primeira lembrança em Belém, um boto visto nas águas em frente ao Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, foi o selo afetivo desse encontro. Hoje, o lar dos dois é esse território único, uma fusão onde a Amazônia e o Nordeste se abraçam e se reconhecem.






Quem entra no apartamento logo nota o pé-direito de 5 metros de altura, o piso original com as madeiras acapu e pau-amarelo, as grandes janelas e o parapeito de ferro ornamentado com as iniciais F.B. Nenhum desses detalhes é por acaso: o casarão foi projetado pelo arquiteto Francisco Bolonha e faz parte da Vila Bolonha, de estilo eclético, combinando elementos da chamada Belle Époque Amazônica – período no final do século XIX e início do século XX em que a região Norte foi impulsionada pela riqueza do Ciclo da Borracha. Daí as referências à arquitetura européia, porém com influência amazônica.
Com uma base arquitetônica tão interessante, a ocupação da casa aconteceu de maneira espontânea, a partir do repertório combinado de ambos. “Mais do que pensar em cada detalhe da decoração, o processo foi sobre transformar o apartamento em um espaço de bom viver. A ideia sempre foi unir funcionalidade e afeto: organizar os cômodos de um jeito prático para o dia a dia e, ao mesmo tempo, preencher cada canto com histórias. Na grande maioria, nossas referências são do Norte e do Nordeste, peças de artesanato popular que carregam memória, lembranças de viagens e objetos que falam da nossa identidade”, eles dizem.



O olhar de Henrique equilibra-se com as vivências de Átila e o resultado é esse apartamento acolhedor, onde as peças mais importantes são, na verdade, capítulos da vida deles. Muitas são cercadas de afeto, como a obra “Curumim”, do artista visual paraense Kambô, que foi “paquerada” por seis anos até a compra, ou a mesa lateral de madeira reaproveitada de embarcações, criada pelo Estúdio BOHHO, outro desejo antigo. Esse emaranhado de histórias se completa com a força ancestral dos cestos Baniwa e Yanomami, e com obras como a “Museu do Homem do Nordeste”, de Jonathas de Andrade. Coroando a composição, estão os trabalhos do próprio Henrique, como o desenho “Retomada” e o grande quadro sobre o bar — este, um reflexo de dois anos de pesquisa sobre diversidade sexual, corpo e ancestralidade na Amazônia.
No apartamento, sala e cozinha ficam integradas no mesmo espaço — que, não por acaso, se tornou o coração da casa e um ótimo ponto de encontro para os amigos. Ali o casal vive o cotidiano tanto na calmaria de tomar um vinho na janela olhando a rua quanto nos momentos de celebração, com música alta e a casa cheia. E é claro que, em plena Belém, cidade de gastronomia reconhecida mundo afora, esse afeto transborda pela cozinha: é de lá que saem o tradicional arroz paraense e os drinks com jambu e açaí, que já se tornaram a marca registrada desses encontros.



O talento para anfitrião é algo que Henrique herdou de ambos os lados de sua família: enquanto seu pai sempre foi mais festeiro, organizando grandes almoços de domingo, sua mãe foi quem o inspirou a cozinhar. Desde cedo, ele ficava por perto observando como ela preparava os pratos, que temperos usava e como combinava sabores, e com ela, aprendeu que ter um bom eletrodoméstico era garantia de que você teria uma rotina melhor e mais fácil. A Consul sempre fez parte de sua história, desde as casas da infância, até agora no espaço que ele chama de lar.
Para a rotina não pesar, a Consul entra como uma aliada que torna a vida mais prática. Os eletros do casal oferecem soluções que fazem a diferença no uso real, como o fogão 4 bocas super fácil de limpar e o micro-ondas com função descongelar, ideal para os dias mais corridos. Já a geladeira frost free, além da funcionalidade, tem como ponto alto o design – afinal ela fica em destaque na sala. E como o casal mesmo nota, às vezes o maior conforto vem dos detalhes, e ter um purificador que garante água geladinha em uma cidade tão quente, por exemplo, é uma daquelas facilidades que, por mais básica que pareça, transforma o dia a dia.








No fim, tudo se conecta neste lar. A identidade amazônida da qual Henrique se orgulha, as experiências de Átila crescendo no Nordeste ou viajando pelo mundo, o acolhimento que os amigos sentem ali, as comidas deliciosas que são preparadas todos os dias, o vinil da Fafá de Belém tocando de fundo… a casa é o resultado desse viver – por isso é tão celebrada.
O casal diz que o lugar é feito de memórias e comunhão, carregado com 120 anos de outras vidas e histórias que eles fazem questão de respeitar. Inclusive, essa casa-território ainda tem seu próprio som de resistência. É o que eles escutam nos domingos silenciosos: “Às vezes paramos no tempo e ficamos em silêncio escutando os passarinhos que pousam sobre os postes, geralmente quando tem pouco movimento nas ruas. Isso evoca uma resistência da natureza em meio a uma metrópole na amazônia. Refletimos com o tempo que temos: sem dúvida aqui é um lugar especial”.






3 dicas da região
Henrique e Átila vivem diariamente toda a intensidade de Belém do Pará, por isso eles nos trouxeram dicas super legais que precisam entrar no seu roteiro:
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Passar um dia na Ilha do Combu, onde dá para visitar a fábrica de chocolates da Dona Nena e almoçar tambaqui na brasa no restaurante Aho.
Para sair à noite, o jantar no restaurante Puba é uma experiência gastronômica que traduz a força e a delicadeza da cozinha paraense.
Garimpar peças de artesanato e design local na Ygarapé, loja com curadoria de Adelaide Oliveira, que valoriza a produção criativa da Amazônia.
Texto por Bruna Lourenço | Fotos por Leila Viegas

Sensacional a casa, cheia de brasilidade, peças de arte lindas, lendo o texto viajamos juntos! Parabéns pra vcs!
Delícia de apto! Com alma e cara de um verdadeiro lar. Parabéns e obrigada pelas dicas do Pará! Irei salva-las