Last Updated on: 7th novembro 2025, 05:16 pm

Projeto Histórias Brasil Adentro Logo

Se você nos acompanha por aqui ou no Instagram, já deve ter percebido que estamos viajando pelo Brasil para conhecer mais sobre a arquitetura e os diferentes modos de viver em nosso país. O projeto Histórias Brasil Adentro começou em outubro, com conteúdos pela região Norte — onde exploramos Belém e a Ilha do Marajó —, e agora em novembro seguimos rumo ao Nordeste, com primeira parada em Pernambuco. Além de Olinda e Recife, aproveitamos a viagem para visitar Tracunhaém, cidade reconhecida pela cultura do barro.

A pouco mais de uma hora de carro de Recife, o município recebeu o título de “Capital do Artesanato em Cerâmica” de Pernambuco por possuir uma forte tradição nesse tipo de trabalho, desde peças utilitárias até esculturas de santos e figuras decorativas. Essa herança não é apenas cultural, mas também econômica: o artesanato em cerâmica é fonte de renda e identidade para muitas famílias locais há gerações.

Tracunhaém e o barro como herença

A relação de Tracunhaém com o barro vem de longa data, desde o período pré-colombiano. Já na era colonial, técnicas ibéricas de modelagem, como o uso do torno, foram incorporadas ao fazer local. Naquela época, pessoas escravizadas produziam telhas para os engenhos e também utensílios domésticos como panelas e potes.

De acordo com a rede Artesol, há relatos de que a cerâmica figurativa surgiu das brincadeiras dos filhos de oleiros e paneleiras, que moldavam bonecos a partir da mesma matéria-prima usada pelos pais. No século XX, as esculturas de barro passaram a ser vendidas nas feiras, retratando animais, santos e personagens da cultura popular.

Com o tempo, alguns artesãos se tornaram verdadeiros mestres do barro — figuras muito respeitadas por seu ofício e referência para as gerações seguintes. Entre eles estão a família Nuca, Zezinho de Tracunhaém, Mestre Zuza e Mestre Ivo Diodato.

Tracunhaém e o barro como herença
Tracunhaém e o barro como herença

Durante nossa parada na cidade, conhecemos o ateliê de Mano de Baé, assim como de outros artistas contemporâneos que dão novos contornos à tradição local: Lenys, Jair Monteiro e Bonecos de Pilão.

Mano de Baé

Filho do também renomado artesão Mestre Baé, já falecido, Mano construiu uma identidade artística própria. No início, buscava recriar as peças do pai, mas, sem ter exemplares para usar como referência, acabou desenvolvendo características singulares — como o formato mais quadrado de suas esculturas, em contraste com as linhas arredondadas de Mestre Baé. Atualmente, as sereias viraram sua marca registrada e outros integrantes da família participam da produção, como seu irmão.

Tracunhaém e o barro como herença
Tracunhaém e o barro como herença
Tracunhaém e o barro como herença
Tracunhaém e o barro como herença
Tracunhaém e o barro como herença
Tracunhaém e o barro como herença

Lenys

Formada pelas artesãs Grecylene e Regilene, conhecidas como “as Lenys”, a dupla se uniu há mais de uma década no amor e na arte, criando peças autorais marcadas por delicadeza e identidade. Em 2021, receberam o primeiro lugar no 5º Salão de Arte Popular Religiosa da FENEARTE, com a escultura Todas as Nossas Senhoras. Além das figuras religiosas, o casal desenvolve utilitários e objetos de decoração cheios de poesia, como pássaros e páginas de barro.

Tracunhaém e o barro como herença
Tracunhaém e o barro como herença
Tracunhaém e o barro como herença
Tracunhaém e o barro como herença
Tracunhaém e o barro como herença
Tracunhaém e o barro como herença
Tracunhaém e o barro como herença
Tracunhaém e o barro como herença

Jair Monteiro

Autodidata, Jair Monteiro de Souza carrega o barro como herança de família. Desde os oito anos, observava o trabalho do pai e ajudava no acabamento das peças. Suas obras dispensam pintura — é o fogo do forno que define o tom e a textura final de cada uma. Tivemos a chance de vê-lo trabalhando e é impressionante sua destreza ao moldar os itens no torno.

Tracunhaém e o barro como herença
Tracunhaém e o barro como herença
Tracunhaém e o barro como herança cultural
Tracunhaém e o barro como herença
Tracunhaém e o barro como herença
Tracunhaém e o barro como herança cultural

Bonecos de Pilão

Criado pelo artista plástico Ricardo Francisco e pelo arquiteto Marcos Torres, o ateliê Bonecos de Pilão surgiu em 2019 com um olhar contemporâneo sobre o barro. Além das esculturas, o duo produz gravuras digitais e pinturas em painéis. As linhas geométricas e formas planas em 2D diferenciam o trabalho do ateliê entre as opções na cidade.

Tracunhaém e o barro como herença
Tracunhaém e o barro como herença
Tracunhaém e o barro como herença

Fontes: Rede Artesol; A arte de Tracunhaém e seus mestres/artesãos / Juliano Leal Camargo. Canoas : Ed. do autor, 2018; Aventuras na História; Editora Arteambiente; Boobam

Texto por Yasmin Toledo | Fotos por Felco