Last Updated on: 10th fevereiro 2021, 03:40 pm

Foi durante uma viagem de peregrinação ao Peru, em junho de 2019, que a designer de inovação social Ana sentiu que era hora de ter um lar só para si: antes disso, ela sempre dividiu casas com outras pessoas, então essa decisão também representava o desejo de ter o seu próprio espaço, que refletisse seus gostos, histórias e personalidade. Com isso em mente, Ana voltou ao Brasil determinada a buscar o lugar ideal entre os prédios charmosos da região central de São Paulo, como Santa Cecília, Higienópolis e Vila Buarque: “Lembro de ir ao restaurante Orfeu com amigos e dizer que queria morar no Copan ou em algum apê por ali. E foi o que aconteceu. Hoje consigo ver o Copan da janela do meu apartamento”, ela conta.

Antes de encontrar o seu apê atual, Ana visitou outro imóvel com o qual se identificou muito, mas como ele já estava reformado, não havia muitas perspectivas de mudanças para imprimir suas referências ali: “Terminando a visita, notei que haviam outros apartamentos à venda no mesmo prédio e resolvi buscar na internet para ter um comparativo de preço. Foi então que encontrei o meu apê por um custo menor, mas ele precisaria de uma super reforma. Pensei que com a diferença nos valores eu poderia deixar o espaço com a minha cara e, na mesma semana, mandei a minha proposta para o proprietário”, Ana diz.

Para dar forma ao projeto, a moradora contou com as arquitetas Carla e Ana, do escritório MANA Arquitetura, o que resultou em uma parceria perfeita, já que as três valorizam uma vida sustentável, o uso de materiais naturais, a reutilização de objetos já existentes e o trabalho de artistas nacionais. No apê da Ana, o grande destaque nesse sentido vai para os móveis reaproveitados de sua família e a estante de plantas na sala com prateleiras suspensas, que foi feita com a madeira maciça dos armários antigos desinstalados durante a reforma.

De forma geral, a obra não poupou quebra-quebra e deixou os ambientes bem mais integrados e atualizados: no novo layout, a sala de estar e jantar são amplas e separadas apenas pelo jardim vertical. Além disso, com a demolição das paredes, uma coluna de concreto foi descoberta e deu ainda mais charme ao espaço. Outra solução bacana foi o painel de madeira freijó, que além de dar acesso ao quarto de forma camuflada, também abriga um roupeiro e uma estação de home office, que, com a chegada do isolamento social, se tornou parte fundamental do apê.

A decoração é composta em sua maioria por móveis que Ana e sua família já possuíam, como a mesa de jantar que estava na casa de seus pais e foi restaurada, ou a cômoda amarela, que foi de sua avó e a acompanha desde pequena. Para complementar o visual com peças mais contemporâneas, Ana e as arquitetas do projeto procuraram priorizar artistas brasileiros, usando itens como o cobogó Mãos, dos Irmãos Campana; a escultura de madeira artesanal; o estandarte bordado à mão pela comunidade das Bordadeiras do Curtume; as obras de Lucas Dupin e Nazareno; e também as fotografias de Júlio Tavares.

Durante a quarentena, Ana decidiu concretizar uma vontade antiga e adotou a cachorrinha Menina, de 12 anos, que logo virou o seu xodó: “O que mais me tocou na história da Menina foi que, mesmo ela tendo uma ótima saúde e sendo uma cachorra super dócil e muito amorosa, ninguém queria adotá-la por conta de sua idade. Mais uma vez entendi que tudo tem seu tempo certo para acontecer. Hoje ela é minha melhor companhia, um amor incondicional. Agradeço todos os dias por esse encontro”, Ana diz.

No apê, todos os dias começam com o passeio de Menina pelo bairro e, só depois, Ana toma seu café, rega as plantas e se dedica ao trabalho, que tem sido feito de casa por conta da pandemia. Com o espaço cheio de memórias e significado — e, agora, em boa companhia — Ana não poderia estar mais feliz em seu lar: “Com certeza esse apartamento e a adoção da Menina são os principais projetos da minha vida até hoje”, ela conclui. * Quer continuar essa história??? Então não perca o Capítulo 2!

Texto por Yasmin Toledo | Fotos por Maura Mello

Continua no Capítulo 2