Last Updated on: 15th maio 2021, 09:54 am

Não é de hoje que o desejo de reconexão com os fazeres manuais começou a ganhar espaço no dia a dia das pessoas. Se por um lado a correria e o estresse são lugares-comuns, por outro, muitos de nós procuram desviar dessa lógica, valorizando, por exemplo, as práticas artesanais como forma de relaxar a mente. Com a quarentena, muita gente se viu obrigada a fazer uma parada forçada, abrindo também espaço para novas atividades dentro de casa. Pensando nisso, decidimos explorar esse universo de possibilidades falando sobre diferentes técnicas manuais aqui no blog. Que tal se inspirar e começar algo novo também? 

Com acabamento manual e único, as peças de cerâmica são itens afetivos e cheios de significado em muitas casas aconchegantes que visitamos aqui no blog. Por possuírem tamanhos, cores e formatos diversos, esses objetos podem servir tanto para utilidades do dia a dia, quanto como obras de arte e decorativas, enfeitando paredes e estantes. São muitas as opções de objetos, como xícaras, vasos, pratos e ornamentos, mas todas elas têm algo em comum: são peças que vieram do barro e ganharam forma através das mãos de algum artesão. Se você também é fascinado pela beleza desse processo, que tal aprender a técnica e criar suas próprias cerâmicas? E o melhor: uma boa parte das etapas pode ser feita dentro de casa!

Olhar de especialista

Conversamos com a Sofia Oliveira, criadora da marca Olive Cerâmica e professora da técnica de torno, para entender mais sobre a beleza e prática da cerâmica. Olha só o que ela nos revelou:

Conte um pouco sobre você e como começou os trabalhos com cerâmica e a marca Olive:

Sofia: Eu comecei a fazer cerâmica em 2014, logo depois de sair da agência de publicidade em que trabalhava. Eu estava super frustrada com o trabalho e não conseguia me ver nessa carreira pro resto da vida. Comecei uma busca por cursos de trabalhos manuais e caí na cerâmica sem querer. Comecei a fazer cerâmica em São Paulo e acabei no ano seguinte indo fazer uma especialização em torno em Paris, com o mestre Augusto Tozzola, um senhorzinho de 90 anos que faz cerâmica desde os 13. Foram quase dois anos do momento em que comecei a fazer as primeiras pecinhas até estruturar a Olive e ter meu ateliê.

Na sua opinião, o que torna a cerâmica tão especial? O que te encantou/encanta nessa atividade?

Sofia: Acho que por ser algo feito manualmente, com uma história milenar, quase ancestral, que acompanha nossa evolução enquanto espécie no descobrimento de novas técnicas. Seja para ter um sentido utilitário, seja para a contemplação artística, vejo a cerâmica como uma peça cultural importante. Além do fato de achar interessante, tenho prazer em transformar um elemento tão primário como a terra em algo que trará uso para as pessoas.

Qual o seu conselho para quem está cogitando começar a atividade durante o isolamento? É possível contornar os obstáculos desse momento, como por exemplo, a questão de não ter um forno para fazer a queima?

Sofia: Acho super legal a ideia de usar esse tempo em casa para descobrir a cerâmica. A internet está lotada de vídeos de processo que podem ajudar a começar a entender como o trabalho com argila funciona e, além disso, existem muitos ceramistas e ateliês dando aulas online também. Quanto às queimas, talvez isso dependa mais de a pessoa conseguir achar algum lugar que ofereça o serviço. Alguns dos lugares que estão dando aulas online estão fazendo as queimas dessas pecinhas para os alunos também. Vale procurar na sua cidade!

É possível começar a fazer cerâmica mesmo com poucos materiais e instrumentos? O que é essencial?

Sofia: É super possível! Para começar, precisamos apenas de argila e água. As ferramentas profissionais podem facilmente ser substituídas por objetos que tenhamos em casa. Dá pra usar fio dental para cortar a argila, colher para alisar, e esponja de cozinha para limpar ou dar textura na peça. Eventualmente, é necessário fazer a queima para que a peça de argila se torne cerâmica, mas pra quem não tem essa possibilidade no momento, não acho que deva deixar de começar. Aprender a entender a argila e se acostumar com o toque já é super importante.

E o torno? Ele é imprescindível? Quais seriam as peças mais fáceis de fazer sem o uso dele? 

Sofia: Nem um pouco imprescindível! O torno é uma das diversas técnicas usadas para fazer cerâmica, mas ele definitivamente não é algo que alguém precise ter para começar. O torno é muito usado para reprodução em série e claro que facilita a vida do ceramista em alguns casos, mas existem diversas técnicas maravilhosas além do torno. Normalmente começamos pelo belisco (ou pinch), acordelado (ou minhoca) e placas. Já dá pra fazer muita coisa legal só com essas técnicas.

Como funciona a esmaltação?

Sofia: O esmalte é uma mistura de minerais que, quando vai ao forno e derrete, cria uma camada de vidro em volta da peça que dá cor e textura. Existem várias maneiras de esmaltar (por banho, imersão, compressor, e muitas outras), mas pra quem vai começar em casa indico esmaltar com pincel. Alguns esmaltes funcionam melhor para uma técnica de esmaltação do que outros, então quando for comprar é bom perguntar quais são indicados para serem aplicados com pincel.

Você tem alguma dica de lugares para comprar os materiais necessários? 

Sofia: Em São Paulo tem as lojas da Arte Brasil, Hobby Cerâmica e Zeramics. Na internet e pra quem é de fora da cidade, tem a Casa do Ceramista, WR Cerâmica e Loja Risi.

Olhar de iniciante

Se você está tomando coragem para se aventurar nessa técnica, que tal saber como a cerâmica tem impactado a vida de uma aluna recente? A arquiteta Luciana Andrade começou a fazer aulas antes da quarentena, mas com a chegada do isolamento, optou por alugar um torno e continuar a aprender de maneira online.

O que fez você se interessar pela cerâmica?

Luciana: Sempre gostei de artesanato e vi na cerâmica uma forma de me conectar com meu lado criativo e um desafio.

Como tem sido a experiência de se dedicar à atividade durante a quarentena?

Luciana: Tem preenchido minhas tardes, é a parte boa do dia, sem precisar cuidar da casa ou das crianças. É libertador.

Qual foi o maior desafio nesse aprendizado online? 

Luciana: As aulas de cerâmica, além da atividade em si, têm a companhia de pessoas com os mesmos interesses. É uma troca de experiências. A dificuldade é aprender sozinha ou com vídeos, sinto falta das pessoas, das dicas, das risadas…

Algo te surpreendeu (em facilidade ou dificuldade)? 

Luciana: Sim, o torno é mais difícil do que parece, rs. Requer dedicação, concentração e técnica. Mas é apaixonante!

O que você diria para quem precisa daquele empurrãozinho para começar?

Luciana: Comece! É super gratificante ver uma peça feita com tanto esforço e carinho. Eu aprendi a dar mais valor às peças cerâmicas. É interessante ver sua personalidade refletida nesta arte. Comece!

Texto por Yasmin Toledo | Fotos por Ilana Lichtenstein para Olive Cerâmica