Last Updated on: 15th fevereiro 2021, 02:00 pm

“Quando cheguei aqui, era tudo mato. O apartamento não era habitado fazia 8 anos. Havia um chão de taco intacto, um exaustor velho, um lustre em cada bocal no teto e só. Parecia ser apenas entrar com os móveis e pronto. Mas só parecia…”. É assim que o designer gráfico Raphael se recorda de quando decidiu se mudar para seu endereço atual, em Santa Cecília. Para ele, sair da casa onde morava com a família não foi uma tarefa fácil, mas representou um marco importante em sua vida, o que deixa sua relação com esse apê ainda mais especial. Atualmente, o espaço está repleto de cores e personalidade — bem diferente do cenário descrito antes — mas para deixá-lo assim, o designer primeiro se aventurou em uma grande reforma.

Ainda que o imóvel aparentasse estar pronto para ser habitado, Raphael logo notou que precisaria de alguns reparos hidráulicos e elétricos, e, para isso, a ajuda de um profissional seria essencial. Nessa época, ele passou também a considerar fazer um projeto maior no apê, mas tinha medo que sua casa não ficasse com a sua cara. Foi então que se lembrou da pessoa perfeita para ajudá-lo nessa etapa: “O Renato Périgo, um amigo arquiteto, um arquiteto amigo… quando veio a possibilidade de convidá-lo, não parecia existir opção melhor. Não só pelos atributos profissionais – que são ótimos, diga-se de passagem – mas também por saber que era alguém com quem eu tinha profunda afinidade”, conta o designer. Dessa forma, Raphael pôde compartilhar seus gostos e anseios com o arquiteto, deixando assim o caminho aberto para uma criação a quatro mãos.

Com poucas mudanças estruturais, o apartamento ganhou novos ares, atendendo a todos os pedidos de Raphael, como o respeito à arquitetura original; uma expressão contemporânea, espontânea e brasileira; e o aconchego que ao mesmo tempo retomasse a vida em família e reunisse os amigos. Por fim, o resultado ficou tão incrível que permite ao morador viagens no tempo e espaço sem precisar sair de casa: “Acho muito legal o fato de uma peça da Lina Bo Bardi, dos anos 80, estar na mesma sala conversando com uma poltrona do Rino Levi, dos anos 50, e um armário do Renato, que é meu amigo, ou uma mesa com mármore semidestruído… pensar na conversa entre estes designers e na história de cada uma das peças é algo que sempre está presente nos meus devaneios”, ele fala.

Entre os itens de origens mais diversas que compõem o apê, dois merecem destaque especial por conta da memória afetiva que carregam. Um deles é o retrato da avó de Raphael, que faleceu há pouco tempo, com 102 anos. O outro, um banquinho posicionado na entrada da casa, também é uma recordação familiar: “Meu pai, já falecido, era metalúrgico e se aposentou cedo. Aos 60 anos já estava fora da rotina da fábrica. Com tempo livre, ele começou a recolher pedaços de madeira nas caçambas pela cidade e levava tudo pra casa. De uma forma bem naïf ia construindo bancos, banquetas e móveis infantis, e distribuía os feitos pelos amigos e conhecidos da rua”. Dá para entender porque a lembrança é tão importante para o morador, não é?


A sala e a sacada reúnem a dinâmica da casa, até mesmo por serem extensões uma da outra. No espaço, Raphael gosta de tomar o café da manhã olhando o movimento na rua; juntar os amigos para drinks e petiscos; assistir a filmes à noite; ler em sua poltrona e se espalhar pelo sofá. Mesmo morando sozinho, o designer se acostumou a ter o apê sempre cheio, mas também sabe valorizar as horas de recolhimento: “A varanda tem uma questão mais solitária importante: as plantas. Gosto dos momentos mais intimistas no cuidado com elas”, ele diz. 

Aliás, seu apego pelas plantas começou com a ajuda da paisagista Paula Dondon, que estudou o espaço e começou a habitá-lo de acordo com suas condições. Raphael brinca que após o projeto inicial, ele acabou se empolgando ao perceber que conseguia ‘não matar’ suas novas companhias. Foi assim que toda a casa começou a receber mais traços de verde: “Hoje consigo entender quem está precisando de mais água e quem não está; que planta tem passado um período mais amuado que a outra e por aí vai. Isso me faz sentir um pouco mais reconectado com a natureza”, explica. * Quer ver mais detalhes desse apartamento? Então não perca o Capítulo 2 aqui no blog!

Texto por Yasmin Toledo | Fotos por Maura Mello

Continua no Capítulo 2