Last Updated on: 15th fevereiro 2021, 03:58 pm

Por ser arquiteto e consultor imobiliário, Gabriel sempre amou imóveis antigos. Douglas, por outro lado, não entendia muito do assunto e só depois aprendeu a valorizar os prédios com história. Por sorte – e aquela ajudinha do destino que contamos no Capítulo 1 – eles conseguiram alugar um apartamento em um pedaço disputado do bairro de Pinheiros, nos famosos ‘predinhos da Hípica’. “Esse conjunto de edifícios esbanja charme. Eles são tombados, então têm a fachada preservada, assim como uma série de outros detalhes, como toda a caixilharia e o granilite das escadas. Não tem ninguém que entre aqui e não se entregue à beleza da construção”, Gabriel fala.

No que diz respeito ao apartamento em si, a reforma realizada pelos proprietários e amigos do casal deu outra vida aos espaços. Como a construção é dos anos 50, os ambientes antigamente eram compartimentados, mas agora são bem integrados – até mesmo o banheiro tem a área da cuba aberta para a sala, por exemplo. O mais bacana da reforma é que, apesar de tantas mudanças, foi possível preservar alguns elementos originais, como o ladrilho vermelho da cozinha, os tacos de peroba rosa restaurados e as portas com maçanetas charmosas. Já o concreto e o tijolo aparente deixaram à vista o sistema construtivo da época, o que também valoriza o contexto histórico da arquitetura.

Gabriel acredita que até determinado momento da história, fatores básicos como ventilação e iluminação eram levados de fato da prancheta para o canteiro de obra. “Você ter um pé-direito de 3 metros, por exemplo, contribui não só para a sensação de amplitude, mas no conforto térmico do ambiente. Parece bobagem, mas o ar quente é mais leve, ou seja, não tem como comparar com um imóvel que tem o pé-direito de 2.40 que vemos nos dias de hoje. Outro exemplo são as janelas com persianas que se recolhem totalmente, aproveitando 100% do vão para entrada de luz, ou janelas com a bandeira basculante que permitem ter circulação de ar mesmo em dias de chuva. São pequenos detalhes que foram limados ao longo do tempo”, ele explica.

A entrada da casa acontece pela cozinha, e não poderia haver ambiente melhor para receber as visitas. Desde que conheceram o apê, Gabriel e Douglas gostaram do cômodo de imediato, então fizeram poucas mudanças. Eles trocaram a luz branca por um pendente de globo e trabalharam a decoração em cima da base que já era ótima. “Nosso xodó é o fogão Brastemp de 1975 colorido, em conjunto com as cadeiras que vieram do apartamento do Douglas. É um espaço de bastante cor que contrapõe com a sala”, Gabriel diz.

Quem sempre faz companhia para o casal são os gatinhos: um era de Douglas e o outro de Gabriel, mas eles contam que os dois logo fizeram amizade porque conviviam desde cedo, mesmo quando ainda não moravam juntos. Piriquito tem em torno de 6 anos e é mais reservado, só mia por comida – afinal, são 12 quilos de gato. Nestor, resgatado da rua com 30 dias de idade, é carinhoso e vive pedindo chamego.

Já que o apartamento tem dois dormitórios e um closet, inicialmente o casal havia pensado em manter quartos separados para preservar a individualidade de cada um. “Acontece que, com o passar do tempo, nos demos conta de que não dormimos sequer uma noite separados e que estávamos apertados em um espaço enquanto os outros dois estavam subutilizados. Em uma noite na varanda, com uma garrafa de vinho na mesa e outra na cabeça, o Gabriel fez dois ou três rabiscos e assim decidimos dividir os ambientes da seguinte forma: um passaria a ser o quarto do casal, apenas com a cama, enquanto outro seria o closet em comum”, eles lembram. O dormitório restante se transformou em um escritório e também um lugar para acomodar os hóspedes. “Brincamos que é o quarto oficial do nosso amigo Paulo, que mora em Campinas, porque ele chega aqui em casa de sexta-feira e só vai embora no domingo”, falam.

Com estilos que a princípio eram tão distintos, Gabriel e Douglas parecem ter encontrado o equilíbrio perfeito entre a vida em conjunto e as particularidades de cada um. Segundo eles, o segredo está em respeitar as vontades e gostos do outro, mas sem anular os seus próprios – e foi assim que nasceu a decoração. Ainda que eles não concordem em tudo, ambos cedem aqui ou ali para que a casa e a vida sejam cada vez mais leves. “É aqui que recebemos nossos amigos, nossos familiares, damos jantares e festas. Mas é aqui também que nutrimos a nossa relação a dois, nosso amor e respeito um pelo outro”. 

Fotos por Leila Viegas