Last Updated on: 19th março 2021, 03:19 pm

Após uma grande reforma no apartamento em que já vive há 13 anos, o designer carioca Flávio pode até dizer que mudou de casa dentro do mesmo endereço. Na verdade, o apê pertenceu a seu pai enquanto ele trabalhava em São Paulo, mas coincidentemente na mesma época, os dois acabaram fazendo caminhos inversos: Flávio recebeu uma proposta em SP enquanto seu pai voltava para o Rio de Janeiro e deixava o imóvel desocupado. “Desembarquei aqui já tendo onde morar. Se eu tivesse que procurar um apartamento do zero, esse provavelmente não teria sido a minha escolha, mas ter um teto quando cheguei foi um privilégio e uma ajuda gigante. Fora que eu amo o bairro Vila Beatriz, que é um oásis no meio da cidade, cheio de árvores, pracinhas e pássaros”, ele conta.

Mesmo o apê não tendo a sua cara logo de início, o designer teve a preocupação de imprimir ali a sua personalidade, trocando móveis e trazendo objetos de viagens que colorem o lugar até hoje. Nos primeiros anos, reformar não era uma opção devido ao investimento, e depois, questionamentos deixavam Flávio inseguro sobre o tempo que ainda passaria vivendo ali. Quando, por fim, decidiu enfrentar o quebra-quebra por conta do surgimento de uma infiltração no piso, o morador já sabia que faria o projeto com o arquiteto e amigo pessoal Rogério.

Como a planta original tinha ambientes pouco aproveitados, otimização foi a palavra-chave para a reforma: o apê recebeu uma marcenaria sob medida e teve a cozinha e a área de serviço integradas para ganhar amplitude. No segundo andar, a pia do banheiro foi transferida para o closet para dar espaço a um box maior e mais confortável. Além disso, Flávio fez questão de ter uma torneira na varanda para conseguir regar as plantas de maneira mais fácil. “Com a reforma, eu passei a gostar bem mais do apartamento, curtir coisas que eu antes não aproveitava, como a minha varanda e a cozinha. Eu gosto de cozinhar, de fazer meu almoço durante a semana, e com a cozinha mais ampla e iluminada, isso se tornou muito mais prazeroso”, o morador diz. A varanda, com as adaptações, também ficou mais agradável, com direito a horta e rede de descanso.

Mesmo trabalhando em esquema home office, Flávio não quis criar uma bancada exclusiva para isso: na prática, ele sabe que acaba passeando por todos os cômodos com o seu notebook, migrando entre poltronas, cadeiras de jantar e bancada da cozinha. Por conta dessa relação intensa com a casa, é importante que cada espaço esteja bem decorado e aconchegante, e o clima escolhido teve uma inspiração escandinava, com bastante branco e madeira, mas sem o minimalismo que costuma acompanhar o estilo. Como garimpou muitos objetos e lembranças de viagens ao longo do tempo, não faltam no apê detalhes coloridos dispostos pelas prateleiras e bancadas. Para o designer, são esses itens os responsáveis pela alegria da casa.


Entre seus garimpos e lembranças de família, se destacam algumas coleções, como a de saleiros e pimenteiros dispostos de maneira divertida na prateleira da cozinha, ou a de revistas National Geographic, guardadas por seu pai e avô e atualmente empilhadas como uma mesinha ao lado do sofá. Para completar, alguns objetos ressignificados nos ambientes deixam evidente o olhar sensível de Flávio: “Numa viagem recente, vi um cobertor de criança numa loja de coisas de design. Achei lindo e acabei comprando pra usar na parede como uma tapeçaria. Também tenho uma escova de sapato que ganhei de presente, que tem a palavra ‘shine’ escrita nas cerdas. Uso ela como um objeto de decoração no lavabo… tem coisas que são tão lindas ou poéticas que merecem um uso diferente, mais especial”.

Para Flávio, o sentimento de estar em casa não é exclusivo de um só lugar, mas a relação com os espaços pode ser diferente em cada um. “É engraçado porque eu me sinto em casa quando visito meus pais no Rio, e também quando volto para São Paulo, onde de fato eu vivo. Sei que esse sentimento é possível em mais de um lugar, mas aqui, o que me faz sentir assim é tirar o sapato, a camisa, deitar no sofá, adormecer assistindo a um filme na TV, cozinhar, cuidar das plantas e tomar um banho quente. Acho que a gente se sente em casa onde tem amor, onde tem cuidado…” ele fala.

Texto por Yasmin Toledo | Fotos por Felco