Last Updated on: 19th março 2021, 03:35 pm

Leveza, arte e bom humor. Esse é o clima do apartamento de Samantha e Ara, no icônico Edifício Louvre, projetado por João Artacho Jurado na década de 1950 no bairro da República. A luz natural abundante e os inúmeros detalhes cuidadosos são, em parte, responsáveis pela sensação de bem-estar transmitida, mas é a rotina da casa com o convívio entre as moradoras, os pets e as plantas que traz essa aura de poesia e descontração. Para o casal, que vive junto desde fevereiro, seu apê é como um respiro essencial em pleno centro de São Paulo, uma cidade tão grande, populosa e frenética. “Tem sido uma experiência linda e única para nós. Ambas viemos de moradias com amigas e unimos nossas coisas, móveis, livros, vinis e afetos em um só lar”, contam. 

Ara é artista plástica e diretora de arte, e Samantha produz conteúdos audiovisuais, então a criatividade está presente em tudo na decoração do apê, que apesar de alugado, transborda personalidade. “Eu sempre curti muito o lance de casa e decoração, mas morava em lugares menores e era adepta aos achados e móveis usados. Ara, por outro lado, é filha de arquitetos e cresceu em lares com um olhar para o espaço mais apurado. Em nossa casa, cada cantinho e o apartamento como um todo foi concebido em conjunto e sem qualquer conflito. O lar que criamos reflete nosso momento, nosso relacionamento, e também nossas individualidades”, Samantha diz.

No endereço, é impossível não perceber a influência da arte na vida das moradoras. Pelas paredes e apoiadas no chão, a grande maioria das telas são assinadas pela própria Ara, com exceção de uma em particular: “A pintura maior é um presente que meus pais fizeram para mim enquanto ainda grávidos. Ela ficou sob meu olhar enquanto morava com eles em Natal, e, recentemente, em 2017, minha mãe me enviou via transportadora. Quem sabe foi a maneira de se sentirem mais próximos fisicamente de mim… carrego a tela comigo desde então”, a artista conta.

Para compor o lar, as moradoras fizeram um grande mix com tudo o que já tinham, filtrando o que não cabia mais e complementando com o que ainda faltava. “Poucas coisas novas foram adquiridas, como um buffet usado e um tapete. O resultado da junção foi feliz, nossas coisas já conversavam bem e o olhar artístico da Ara trouxe uma linguagem única que reforça muito bem a identidade do nosso espaço comum”, revela Samantha. Como exemplo, a diretora de arte escreveu pelas paredes frases e palavras que as representam: “São frases de livros, desejos, palavras de amigos, quereres… somos nós”.

Para elas, a casa é feita por seus moradores, sejam eles donos ou não do imóvel, seja em um quarto de hotel, em uma mesa de trabalho ou em um apartamento alugado: “Para ter um lugar com a nossa cara, não precisamos quebrar paredes a nosso modo, mas podemos habitar transformando”, dizem. Nesse lar tão especial e cheio de afetos, são os rituais do cotidiano que trazem a certeza de se estar em casa: o tempo vivido juntas; ter os bichos andando pra lá e pra cá; cozinhar a quatro mãos; receber família e amigos; ter suas músicas preferidas sempre tocando; peças que transmitem carinho; ler recados de amor pelas paredes e sentir o cheirinho de cravo e canela sempre no ar… são esses aromas, sabores e olhares que fazem do apê um espaço só delas. 

Texto por Yasmin Toledo | Fotos por Ricardo Faiani