Last Updated on: 2nd agosto 2021, 02:42 pm

Após 3 anos desenvolvendo projetos em um grande escritório de arquitetura, Mel Kawahara decidiu investir em uma experiência bem diferente: trabalhar com dobraduras, criando luminárias de papel de maneira manual. Durante a faculdade, ela já havia tido contato com peças do tipo, principalmente quando esteve em Berlim e conheceu o trabalho do artista japonês Mono Ha, que evidencia a relação de interdependência entre materiais naturais e industriais. “De volta ao Brasil, decidi que esse tipo de arte seria o tema do meu projeto final de graduação. A partir dessa pesquisa, fui me aproximando da escala do objeto e da experimentação em oficinas e no trabalho com as mãos”, ela conta.

Apesar de suas origens japonesas e do fato de ter praticado origamis quando criança, a designer só se percebeu realmente envolvida pelas dobraduras durante sua formação como arquiteta. “Lembro de um exercício da faculdade onde tínhamos que fazer uma embalagem para uma garrafa de vidro apenas com uma placa de papel acartonado. Foi incrível ver como era possível estruturar e transformar aquele material. Lidar com essas limitações foi um desafio, então fizemos muitos testes e maquetes, e, no fim, cada aluno desenvolveu uma dobra diferente para que o papel resistisse ao peso da garrafa”, explica.

As primeiras criações da arquiteta foram um conjunto de 6 objetos de latão, papel e madeira. As luminárias só vieram mais tarde, e, para Mel, representam um campo que permite bastante liberdade nas formas, além de serem elementos que facilmente agregam charme e aconchego aos ambientes. Não à toa, a aceitação do mercado foi rápida e o público logo se identificou com o estilo artesanal de seu trabalho – simples, cuidadoso e em pequena escala.

Na hora de montar seu ateliê, a arquiteta sabia que precisaria dividi-lo em dois tipos de espaço: um que funcionaria como oficina, para criar maquetes e produtos finais, e outro como showroom, onde os clientes pudessem ver as peças em exposição. “Desenvolvi o mobiliário para melhor atender à minha produção, com uma mesa mais alta para trabalhar de pé e estantes que pudessem receber as dimensões das caixas das luminárias. Além disso, criei uma calha elétrica em toda a extensão da sala, para colocar as pendentes e poder trocar suas posições ao longo dos meses”, fala.

Como suas peças são brancas e delicadas, ela optou por materiais claros e sem revestimento para a decoração. Os móveis são de compensado de sumaúma e o tapete com textura fez toda a diferença para o aconchego do lugar. Outro fator importante foi a presença de plantas. Aliás, Mel revela que ultimamente tem pensado na ideia das dobras também em cachepôs para as espécies, experimentando formas de vasos e combinações com flores.

No processo de criação, modelos físicos funcionam como a base de tudo, e alguns nomes de arquitetos, designers e artistas ajudam a trazer inspiração. Entre eles estão, por exemplo, Shigeru Ban, os irmãos Bouroullec, Anni Albers e Isamu Noguchi. O toque pessoal em seus produtos se dá principalmente pelo estilo minimalista: “Sou uma pessoa que não gosta de barulho e nem de excessos, acho que as minhas peças refletem bastante essas características”, diz a designer. Para ela, o simples, se bem feito, é melhor do que qualquer outra coisa.

É também por isso que Mel continua abrindo sorrisos cada vez que vê suas luminárias em alguma casa. “É uma sensação maravilhosa. Cada mensagem que recebo elogiando o trabalho me deixa muito contente. É o maior reconhecimento!”

Texto por Yasmin Toledo | Fotos por Maura Mello