Last Updated on: 15th maio 2021, 04:50 pm

A decoração faz parte do nosso dia a dia, por isso conseguimos enxergar ideias interessantes em quase todo lugar, inclusive em ambientes de trabalho. Depois de perceber que esses espaços também tinham suas histórias para contar, lançamos a coluna POR AÍ.

Paixão é o que move a equipe da imobiliária Refúgios Urbanos a fazer o que faz. É por essa paixão que eles estão sempre curiosos para saber mais sobre cada pedacinho da cidade de São Paulo; cada nova loja a abrir dentro de um bairro; iniciativas que reconfiguram uma região e cada história por trás de um edifício. Esse grande interesse pela arquitetura e pela relação com os espaços faz com que o trabalho tenha um propósito muito além do comercial: unir pessoas a lugares de forma sensível e cuidadosa, levando em consideração cada demanda e subjetividade, e assim ajudando a ressignificar histórias.

Quando surgiu, em 2013, a empresa contava com uma área de 12m² e apenas um funcionário, o fundador Matteo Gavazzi. Em trabalho solo, ele tocou o projeto até 2015, quando o sócio Octavio Pontedura entrou para o time. De lá para cá, muita coisa aconteceu: entre novos associados, outros bairros de atuação e até mesmo livros publicados, a imobiliária está hoje em seu terceiro endereço, no térreo do Edíficio Helena Arluzia, em Higienópolis. De volta aonde tudo começou, já que se trata do primeiro bairro atendido por Matteo, eles agora têm o conforto de um prédio residencial, mas podem trazer algo que aprenderam durante a estadia no centro da cidade: o uso misto do espaço, que une comércio e moradias, proporcionando uma experiência completa.

“Nascemos no centro e ainda mantemos uma sala para projetos no Palacete Chavantes, que foi nossa matriz durante 2 anos. Sentíamos que o lado cultural da Refúgios era bem contemplado pela localidade, mas para o lado comercial e de atendimento aos clientes e associados, precisávamos de um endereço mais próximo dos bairros que atendemos hoje”, conta o fundador. Como conheciam o Edifício Helena Arluzia por conta de trabalhos anteriores, os sócios já namoravam a possibilidade de ocupar um dos espaços reservados para lojas no piso térreo, com pé-direito duplo e vista para o jardim. A verdade é que eles ainda amavam a antiga sede, então foi um processo delicado até tomarem coragem para realmente mudar. Mas quando, por fim, houve a oportunidade, eles não pensaram duas vezes.

Com a saída do inquilino anterior, o lugar estava vazio e detonado, então tudo foi repensado do zero. O lado bom é que Matteo interpretou isso como uma tela em branco, que pôde pintar com a ajuda do parceiro Almiro Dias, responsável pelo projeto de arquitetura. Sair de uma ‘casa suspensa’ de 117m² para um escritório no estilo loft com 63m² foi um desafio, mas eles conseguiram unir aconchego e praticidade, tudo sem perder o charme que já era característico da imobiliária. “Mantivemos um pouco do que é a nossa cara, de ser gregário, gostar de receber amigos, clientes e parceiros como em uma casa. Então tem a sala de estar com o sofá e as poltronas; a cozinha aberta com o balcão para um café; a grande estante cheia de livros; a rede lá em cima… tudo isso junto a um espaço de trabalho funcional, compartilhado e leve”, explica Octavio.

Dentre todos os itens decorativos pensados por Matteo, ele destaca o painel de prédios estilizados realizado pelo artista Felipe Cretella e o quadro pintado por Adriano Franchini, com representação de Villanova Artigas, Ramos de Azevedo, Artacho Jurado e Rino Levi. “Esses toques já seriam legais por si só, mas sendo feitos por amigos ganham uma energia ainda mais incrível”, ele revela. Outros itens queridos pelos sócios são a rede lúdica, que é também área de descanso; a porta de vidro permitindo a visão do jardim; o piso de granilite instalado durante a obra; e a estante de livros, que precisou de muitas prateleiras para alocar o grande acervo.

A rede de associados é importante não só para o trabalho, mas também para povoar a imobiliária com alto-astral e relações. No novo ambiente, que é bem integrado, todos se unem ainda mais nessa dinâmica de divisão de espaços. A equipe é variada, composta por arquitetos, engenheiros, publicitários, empresários, radialistas… para eles, a escolha das pessoas sempre foi muito orgânica, menos como uma seleção e mais como um encontro de paixões e intenções. “Somos realmente um bando de apaixonados que leva a sério o que faz a ponto de nos dedicarmos nesses estudos que requerem bastante boa vontade, já que a maioria das informações não é acessível e precisa ser caçada”, completa Matteo.

Com os anos de trabalho, as informações preciosas foram tantas que se desdobraram na série de livros Prédios de São Paulo, repletos de histórias sobre os edifícios mais interessantes da cidade. Não sendo o suficiente, outra obra está no forno e será lançada em junho: o livro São Paulo e suas Casas, reunindo 3 anos de buscas minuciosas por tesouros que estamparão as páginas. Para ter um gostinho, criações de mestres como Paulo Mendes da Rocha, Jorge Zalzsupin, David Libeskid e Marcos Acayaba serão abordadas. Além disso, arquitetos contemporâneos, como FGMF, Felipe Hess, Arkitito e Álvaro Puntoni também terão seus projetos publicados.


Para Octavio, São Paulo são muitas cidades dentro de uma só e perceber isso é altamente estimulante, pois a torna sempre nova. Dentre as histórias que já passaram pela Refúgios Urbanos, estão algumas como a de um apartamento já habitado pelo ex-presidente João Goulart ou a de quando conheceram o neto de um grande arquiteto que os colocou frente a frente com plantas originais. Para Matteo e Octavio, tudo isso é extremamente inspirador. “Um Refúgio Urbano é feito de muitos pequenos detalhes. Estes podem ser os materiais escolhidos em um prédio bacana ou a história que tem por trás dele. Somos apaixonados, farejamos e perdemos horas e horas atrás dessas singularidades”, conta Matteo. Sem dúvidas, a paixão é mesmo o principal motor desse time.

Fotos por Maura Mello