Last Updated on: 26th fevereiro 2021, 04:40 pm

Uma casa e todas as memórias que ela guarda não podem ser resumidas de uma vez só, então por aqui fazemos diferente. Ao invés de concentrar todos os detalhes e fotos em uma única matéria, criamos pequenos capítulos para que você possa curtir essa visita durante vários dias. É só acompanhar a ordem pelo título dos posts e apreciar o passeio sem se preocupar com o relógio. 

Sim! A história de hoje é sobre a casa do Maurício Arruda. Mas ela não é especial por ele ser um arquiteto conhecido ou o apresentador queridinho do Decora, no GNT. Ela é especial pela conexão que o Maurício tem com o seu lar e a importância que ele dá ao morar como um todo: uma paixão que transborda não só em seu apartamento, mas em seus projetos, programas, palestras… porque quem ama o que faz despeja tudo de si, então essa é uma história sobre paixão antes de qualquer coisa.

Como todo bom romance, a relação do Maurício com esse apê teve algumas idas e vindas. Ele viveu no endereço em 2011, ficou alguns anos fora e retornou em 2015. Dá para imaginar o tanto de mudanças que a decoração passou durante esse tempo? O Maurício mesmo perdeu a conta! Até porque seu lar já foi usado como escritório, cenário de campanhas, acervo do programa… e hoje, como era de se esperar, acabou se transformando em um espaço de experimentação onde o arquiteto pode colocar suas ideias mais ousadas em prática. Layouts diferentes, móveis diferentes, cores diferentes… tudo diferente.

Meu apartamento é um lugar no qual eu posso testar coisas. Então tentei soluções que nunca tinha feito. Eu acho que a minha casa transmite muito o momento que estou vivendo. Quando passei a fazer o Decora, nossa, o apartamento era uma bagunça! Porque eu comecei a comprar muitas peças e virei garimpeiro, pesquisador. Hoje temos um acervo especial pra isso, mas antes ficava aqui. E durante um tempo foi meu escritório, então aqui já trabalharam 7 pessoas, era uma rotina diferente. Todos esses movimentos foram me motivando a fazer mudanças. Esse é o grande potencial desse apartamento: a capacidade de se transformar conforme a minha necessidade”, ele explica.

Tudo começou com uma primeira reforma, realizada pouco após a compra do imóvel – lá em 2010. O prédio é da década de 1950 e o Maurício adora a arquitetura generosa desse período, com pés-direitos mais altos, janelas maiores, piso de tacos e esquadrias de madeira. Porém, uma das características não tão bacanas dos apartamentos dos anos 50 é a compartimentação dos ambientes. Como naquela época o conceito de integração de espaços era pouco aplicado, a maioria dos apês antigos tem um layout ultrapassado. A solução do arquiteto foi remover algumas paredes e deslocar funções: a cozinha agora faz parte da sala, sem barreiras; um dos quartos virou a suíte com banheiro amplo; e o outro dormitório é um cômodo multiuso.

Para uma pessoa como o Maurício, que está sempre inventando e reinventando coisas, tudo pode ser uma fonte repentina de inspiração: a gastronomia, a moda, as histórias que conhece pelo caminho e, principalmente, as viagens ao redor do país. “O Brasil tem um potencial de criação gigante, nas soluções do dia a dia, no improviso, na rua… o DNA do design brasileiro tem muito a ver com liberdade de escolhas, é extremamente criativo desse ponto de vista”, ele fala. Por isso, o trabalho realizado dentro do escritório Todos Arquitetura e do Decora é bastante investigativo, de muita pesquisa e o tempo todo.

“A gente precisa disso tanto para os projetos quanto para o programa, então falamos que o escritório é um para-raios de informações e novidades sobre design”, Maurício conta. Isso traz muito conhecimento para a equipe, ao mesmo tempo em que permite uma relação mais próxima com o mercado e os designers. “Começamos a entender que o escritório, minha casa e essa relação que a gente tem com os fornecedores poderia ser um conteúdo legal, um link de comunicação com outras pessoas. Hoje entendo minha casa e o meu trabalho como um canal de comunicação. Não são só lugares para morar ou para resolver soluções para nossos clientes, mas também para quem não é cliente do escritório. Para os leigos, outros consumidores, arquitetos e estudantes”, completa.

O critério de escolha para as coisas que entram em sua casa não poderia ser melhor: que elas tenham valor sentimental, uma memória. Tudo, absolutamente tudo do apartamento, conta alguma história diferente. Um dos xodós mais recentes é o sofá Maralunga, do designer Vico Magistretti. O móvel foi criado no mesmo ano em que o arquiteto nasceu, em 1973, e apesar de ter sido desenhado por um italiano, tem uma alma bem despojada e brasileira. O próprio Maurício assina diversas peças de mobiliário também, mas não tem a pretensão de usar todas elas em sua casa – até porque, não quer sentir que vive em seu showroom – então atualmente possui apenas algumas de suas criações, como a mesa da vitrola, poltronas e racks no quarto.

A estante branca, voltada para a cozinha, é onde vivem as relíquias mais importantes do apê. “Os nichos guardam as minhas coisas que são extremamente sentimentais, que eu comprei em viagens; ganhei dos meus pais ou dos meus avós; que ganhei dos meus amigos… então são peças que estão ali e que a função delas é uma conexão emocional com as minhas memórias. Isso pra mim é superimportante, chegar em casa e lembrar desses momentos é o que transforma a casa em casa”.


A cozinha é um espaço muito importante para o arquiteto. Ele adora receber as pessoas em sua casa e cozinhar para elas. Além disso, é um lugar que proporciona momentos com menos pressa, quase uma meditação. “Tenho uma relação bem sentimental com cozinhar, comer, tudo isso. Pra fazer o café da manhã, por exemplo, fico realmente desconectado das outras coisas – e eu busco bastante isso em casa. De um tempo pra cá tenho me preocupado muito mais sobre alimento. Não só sobre ser saudável, mas entender o ciclo da comida. De onde vem, de quem eu estou comprando, o quanto eu desperdiço, o quanto eu reciclo. Comecei a usar a composteira orgânica e fez muito sentido isso do ciclo – de usar o que sobra pra fazer húmus para as plantas”, ele conta.

As plantas, aliás, são moradoras ilustres do apê. Maurício sempre se interessou pelo tema, assim como sua mãe, então ele cresceu em casas onde elas já faziam parte dos espaços. Ele mesmo escolheu as espécies que usaria, e reuniu muitas delas em uma estante simples de madeira ao lado da janela, para que recebam luz natural. “As plantas têm o poder de fazer com que a gente se conecte com o tempo real das coisas. Foi um insight superimportante que eu tive na minha casa, de ser um momento no qual eu consiga viver esse tempo. E as plantas demandam isso: que você espere que elas floresçam, que elas se acostumem com o lugar… nasce uma folha nova, e aí ela tem uma praga e você cuida, você faz uma muda, cria um vaso novo… esse é o verdadeiro tempo. Não é o tempo que a gente vive hoje, que é extremamente artificial. Se não fosse a tecnologia ele não existiria, então vejo a casa sob esse ponto de vista. Um lugar que eu posso ficar com a cachorra, relaxar, ouvir um vinil, ter que virar o disco e não apenas apertar um botão. Acho que todas as pessoas estão buscando esse viver o tempo real das coisas dentro de casa, justamente pra equilibrar a vida que a gente leva fora dela”.

AMOU e quer mais? A história continua no Capítulo 2!!! E você também pode conferir o tour completo no canal do Maurício Arruda no Youtube. Corre lá!

Fotos por Maura Mello

CONTINUA