Last Updated on: 26th fevereiro 2021, 05:05 pm

Quando se mudou para seu apartamento, há quatro anos, a diretora de arte Guta manteve a planta original e apenas ressignificou os ambientes com a decoração e uma boa pintura. No início, ela conta que o lugar até parecia um pouco sombrio, mas não demorou para que logo se iluminasse e ganhasse vida. Com seus dois filhos, Pedro e Cora, e sua gata Bombom, a alegria da casa já estava garantida, mas se tratando de Guta, há sempre um elemento extra: sua imensa habilidade de misturar móveis, cores e objetos deixa tudo com um toque ainda mais especial.

Durante os dois primeiros anos, nenhuma grande modificação foi feita, até o dia em que a moradora decidiu quebrar a parede que separava a sala da cozinha. Mesmo com a intervenção mínima, a sensação foi a de um enorme ganho de espaço, resultando em um ambiente bem mais agradável. Junto com essa alteração, ela também optou por pintar uma das paredes da sala, que passou a conviver com o amarelo dos armários da cozinha, trazendo um clima leve e divertido.

Na cozinha, a decoração mostra que Guta não se prende a regras. “As pessoas têm a impressão de que alguns objetos não podem ser usados nesse ambiente. Eu não acredito nisso, por isso uso o que acho que vai ficar bonito, agradável ou últil de alguma forma, sem essa preocupação”, ela diz. Com um espaço aberto e único, a moradora conta que a ‘licença’ para usar peças diversas fica mais natural. Como exemplo, um charmoso abajur de murano logo na entrada do cômodo.

Mas se engana quem pensa que a disposição do apê não segue nenhum tipo de ordem. Como preza pela harmonia no lar, Guta procura seguir fundamentos do Feng Shui na hora de escolher o lugar de cada novo item. “Tudo o que eu agrego ao ambiente passa antes pela análise do mapa que minha irmã fez da casa, portanto eu sei onde usar cada tipo de elemento – fogo, água, terra e madeira – em cada canto”, ela revela.

Em relação ao restante do apê, seu quarto mantém uma atmosfera mais clean, com menos informações. O motivo é que a diretora de arte gosta de ter o cômodo para esvaziar a cabeça e se sente bem com o clima proporcionado pela cor branca nas horas de dormir e acordar. Como Guta acredita que os espaços físicos interferem também nos estados mentais, ela procura manter o quarto sempre arrumado. Além disso, outros detalhes ajudam a criar uma aura de bem-estar e relaxamento: “Usei elementos oníricos, como duas peças de porcelana bem poéticas que fiz e um quadro de desenho de pedras brutas, que representam a cura como algo profundo da psique”, ela revela.

Para as crianças, diferentes elementos e misturas compõem o espaço de dormir. A fim de brincar com as ideias de gênero, já que Pedro e Cora dividem o mesmo quarto, as paredes foram pintadas de rosa e azul turquesa e os vazios foram preenchidos com todos os tipos de itens infantis. “Gosto muito de uma máscara de criança antiga da Mongólia que ganhei de uma grande amiga e que fica ao lado de um rosto indígena de barro artesanal do sertão do Cariri, que trouxe de uma viagem”, conta Guta. Dessa forma, com seu jeito livre de decorar, o cômodo ganha misturas inusitadas, cheias de histórias e valores simbólicos.

Sobre o jeito de morar e ocupar os espaços, Guta traz muito de sua vivência quando criança: “A casa da minha infância habita em mim até hoje e tem grande lugar e importância na minha memória. Tenho inúmeras lembranças, mas fica em mim a sensação de casa para ser usada. Conhecia cada cantinho, subia e descia cada degrau, cada rampa ou muro. Até hoje sei descrever tudo. Ela não tinha nada a ver visualmente com minha morada atual, mas tinha de igual a ideia de que tudo tem um uso, as coisas estão ali para serem tocadas, cheiradas e mexidas”, ela diz.

Fazendo da casa uma verdadeira experiência, Guta não esconde o detalhe mais importante para que seu apartamento seja de fato um lar: o amor. Pelos símbolos e história de cada item, a dedicação para compor os espaços e o afeto que a família divide, não há dúvidas de isso o apê tem de sobra.

Fotos por Nathalie Artaxo