Last Updated on: 16th agosto 2021, 05:58 pm

Júlio é um ilustrador e artista que nasceu em Angola, mas se mudou para Portugal aos 2 anos, então sua identidade acaba por ser portuguesa, com algumas influências angolanas. “Sempre vivi aqui, com exceção de alguns meses em que morei em St. Étienne, na França, quando estudava Belas Artes. Gosto de viver em Portugal, mas tento viajar sempre o mais que posso. Confrontar-me com outras culturas faz-me sentir preenchido e ao mesmo tempo mais humilde. O Porto é um lugar com muito potencial, aliás podemos reparar na força desmedida como tem crescido em oferta turística. Sinto que contribuí para a ampliação cultural da cidade com a galeria”, ele comenta.

Em seu apartamento dos anos 40 no centro, o morador expõe suas paixões sobre paredes pintadas de cinza e móveis de diferentes estilos. Toda a casa está cheia de trabalhos de artistas que ele admira, inclusive a sala de jantar. Segundo ele, sua real vontade era preencher tudo, até a parede quase desaparecer ao fundo – quem sabe um dia chegue lá. Júlio é apaixonado pelas narrativas que cada obra conta e pela forma como ele as enquadra em seu espaço privado. “Não as vejo como peças de decoração, mas como pequenas histórias”, diz.

A cozinha foi o único ambiente que Júlio reformou quando se mudou para o apartamento. Isso porque o layout original não era dos mais funcionais, e ele precisava de praticidade. Nesse cômodo a decoração tem menos elementos, mas a parede também não passou ilesa: uma grande ilustração anatômica do corpo humano chama a atenção de quem entra. O morador adora receber os amigos de forma confortável e informal, sem protocolos, por isso normalmente todos se reúnem na cozinha batendo papo enquanto ele prepara a receita do dia. As visitas inclusive o ajudam a pôr a mesa. Esses encontros o inspiram a cozinhar pratos mais elaborados, como o tradicional bacalhau português com broa no forno, ou um belo arroz de polvo.

Ao longo dos anos o banheiro permanece praticamente sem nenhuma intervenção, mantendo sua beleza original. O ilustrador gosta tanto do mármore das paredes que prefere não ter tomadas no espaço só para não descaracterizá-lo. É uma decisão que compromete o conforto, mas para ele vale a pena.

Júlio diz que para ter um lar aconchegante e com personalidade é preciso autenticidade. “Perceber que os objetos que fazem parte da casa fazem parte da nossa história como pessoas também. Posso contar a história de cada um aqui, e da forma como são transversais a mim”, fala. Não à toa, para ele a casa é um lugar de conforto, para onde se volta com um sorriso no rosto.

Fotos por Alessandro Guimarães