Last Updated on: 16th agosto 2021, 05:58 pm

Nada passa em branco no apartamento do ilustrador e artista Júlio, que mora no Porto, em Portugal. Quase todas as paredes são cobertas por quadros, as estantes estão cheias de objetos curiosos e os ambientes esbanjam personalidade. Cada canto é uma oportunidade de descobrir algo novo – ou uma história antiga ali guardada. Também pudera: o morador vive nesse mesmo endereço há 21 anos, então era natural que suas memórias inundassem todos os espaços sem restrições.

Na época em que visitou o apê pela primeira vez, Júlio se interessou pela arquitetura do prédio e seus detalhes, além da localização, na Freguesia de Santo Ildefonso. “Quando vim morar para aqui o centro era completamente desvalorizado e não era difícil encontrar edifícios históricos a preço bastante acessível”, explica. Apesar de ele não ter feito grandes reformas, apenas a recuperação do sistema elétrico e da cozinha, o apartamento se transformou muito desde então, pois os antigos cômodos brancos e vazios que Júlio encontrou quando se mudou foram adquirindo alma com o passar do tempo.

Júlio conta que decorou o apartamento de forma intuitiva, sem ter em vista um projeto ou seguir um único estilo. “A decoração não foi pensada de raiz, fui ocupando a casa com coisas que encontrava, objetos trazidos de viagens… sem nenhum plano, tudo demasiado orgânico”, diz. O morador gosta tanto de colecionar relíquias que às vezes precisa impor limites a si mesmo para não exagerar. “O problema é que se começa facilmente a acumular e perder o controle. De vez em quando tenho que me desfazer de algumas coisas”, brinca.

O engraçado é que mesmo tendo tantas peças em casa, Júlio nunca compra itens em lojas com o simples intuito de decorar. A maior parte dos objetos transporta consigo as lembranças de lugares e pessoas que foram especiais em momentos de sua vida. “Por vezes as coisas não se relacionam visualmente, mas as memórias criam uma ligação muito interessante. Tenho uma almofada do Marrocos, uma marionete do Pinóquio de Praga, uma garrafa de saquê de Kyoto, uma estatueta de madeira de Luanda, uma caveira do México….”. Como ele mesmo fala, tudo se conecta sem muita regra.

Além de ilustrador e artista, o morador é professor na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, por isso está sempre de olho em novos nomes para sua coleção de pinturas, desenhos e ilustrações. Muitas das obras foram trocadas com outros profissionais talentosos ou presenteadas por amigos, e as demais são garimpadas por ele em eventuais promoções. Júlio explica que segue diversos artistas nas redes sociais, então logo fica sabendo quando algum deles está vendendo obras mais baratas – é só estar atento que um tesouro aparece. Ele também foi responsável por uma galeria de ilustração durante 8 anos, chamada Dama Aflita, e nessa época foi adquirindo obras que faziam parte das exposições.

Inspirado por uma visita a um museu onde as paredes eram todas pintadas de cinza, o morador resolveu apostar na cor também para seu lar, pois achou que assim daria destaque às obras – e realmente deu. Na parede atrás do sofá, uma das únicas superfícies com poucos elementos, a peça de metal surgiu de um trabalho de Júlio e é um de seus itens preferidos na sala. “Lembro-me quando pendurei o primeiro quadro, pensando no prego que poderia ferir a parede imaculada. A partir daí não consegui parar, é como fazer tatuagens. As paredes começaram a ganhar vida com os desenhos, e o cinza, ao contrário do que pensava, tornou o espaço mais quente e acolhedor”, conta. * Ficou com vontade de saber mais sobre a história? Veja também o Capítulo 2!

Fotos por Alessandro Guimarães

CONTINUA