Last Updated on: 15th maio 2021, 04:54 pm

A decoração faz parte do nosso dia a dia, por isso conseguimos enxergar ideias interessantes em quase todo lugar, inclusive em ambientes de trabalho. Depois de perceber que esses espaços também tinham suas histórias para contar, lançamos a coluna POR AÍ. 

Ajudar as pessoas a encontrar a casa ideal é o que inspira Matteo Gavazzi, idealizador da imobiliária paulistana Refúgios Urbanos. Feita exclusivamente por amantes de arquitetura, como o sócio Octavio Pontedura, a iniciativa é também uma maneira de devolver algo de bom para a cidade, conectando pessoas e espaços. Sabe quando você vê um apartamento incrível e pensa: ‘Como os moradores acharam essa pérola’? Pois bem, a Refúgios Urbanos faz parte de muitos desses encontros felizes. Mesmo porque, a maioria dos imóveis representados por eles tem algo de especial, seja o legado histórico ou a própria arquitetura. É como gostam de dizer: “Por trás de cada prédio ou casa, existe algo a ser contado”.

Matteo é italiano, mas se apaixonou por São Paulo quando visitou a cidade a passeio em 2010. Gostou tanto que decidiu ficar – e a passagem de volta nunca foi usada. Depois de se aventurar por diversos empregos, ele descobriu que se identificava bastante com o universo dos imóveis, por isso teve a ideia de criar uma imobiliária diferente das outras. No começo do negócio Matteo fazia tudo sozinho, tanto que brincava ser uma EUPRESA, ao invés de uma EMPRESA, porém o amor pelo tema sempre o levou em frente. “Você tendo a paixão por motor, tudo fica mais fácil, pois não cansamos de pesquisar, de estudar, de nos entusiasmar com pequenas descobertas. Tudo isso acaba te envolvendo e envolve os clientes também, que se interessam por saber que irão morar em um lugar único e com história”, ele explica.

Octavio entrou para a empresa alguns anos depois, em 2015, quando ela já estava mais consolidada. Ele é formado em Engenharia Civil, mas durante muitos anos foi executivo de área comercial em empresas multinacionais. A arquitetura sempre o fascinou – desde criança dizia que seria arquiteto um dia. Não à toa, Octavio logo se identificou com o trabalho que Matteo vinha fazendo. “Encontrei um lugar onde falar de prédios, de arquitetura, da cidade, buscar histórias, pesquisar e descobrir é parte de todos os dias. Algo que fazemos com entusiasmo e vontade reais. Então fomos somando o que cada um já conhecia com nossas novas descobertas”, fala.

A Refúgios Urbanos trabalha com alguns bairros específicos de São Paulo, mas o Centro ainda é o lugar que mais encanta a dupla. Matteo acabou se identificando porque de certa forma a região lembra um pouco Roma e tem um aspecto histórico importante, e isso o fez se sentir mais perto de casa. Octavio também se interessa pelas histórias que existem por ali, assim como pela diversidade da cidade que parece ficar mais à mostra no centro. A ideia dos sócios é participar ativamente da reviravolta cultural e da economia criativa da região, por isso eles instalaram o escritório da imobiliária no Palacete Chavantes, um edifício do final dos anos 20 na Sé.

Antes de encontrar um imóvel disponível no prédio, Matteo passou um bom tempo o namorando à distância. Chegou a fazer amizade com o Francisco, zelador, e com o Demerval, ascensorista que trabalhou durante 48 anos ali, e sempre pedia que o avisassem caso vagasse alguma sala. Depois de muita espera, finalmente deu certo e a empresa passou a ocupar parte do 5º andar do palacete. “O conjunto estava abandonado há cerca de 30 anos e foi necessária uma reforma cuidadosa, junto ao restauro de todas as peças originais que encontramos, para deixá-lo novamente bacana. Restauramos as portas de pinho-de-riga, a marchetaria do piso, os estuques e roda tetos em gesso, as torneiras e maçanetas em latão, as janelas em ferro… tudo foi trazido de volta para seu estado original com grande felicidade e satisfação”, contam.

Além da boa infraestrutura do prédio e da localização, que oferece todo tipo de serviços a 100 metros de distância, o Palacete Chavantes tem outros atrativos, sendo sua própria história um deles. Octavio sempre reforça que trabalhar em um edifício emblemático da história da verticalização da cidade tem uma sinergia imensa com o que eles buscam realizar na Refúgios Urbanos como imobiliária e também em seus projetos culturais paralelos, voltados para o reconhecimento e a divulgação do patrimônio arquitetônico de São Paulo. Interessadíssimos no passado da construção, eles se aprofundaram para descobrir todos os detalhes:

“Este é um daqueles lugares onde camadas de história se sobrepõem. Sabíamos que o edifício havia sido construído pela família do Senador Peixoto Gomide e que tinha relação com a riqueza do café. Foi feito para ser um residencial e convertido para comercial em 1947. Também descobrimos que nosso atual conjunto foi ocupado por alguns médicos ao longo dos anos, pois achamos números de telefone escritos na parede e medicamentos antigos dentro de um cofre. Porém, ao irmos mais a fundo na história acabamos chegando na informação de que onde está o prédio hoje foi o sobrado em que residiu o Senador Peixoto Gomide e onde ele, em uma manhã de 1906, cometeu um crime: matou sua própria filha, Sophia, e em seguida se suicidou. O motivo do crime nunca foi totalmente desvendado, pois Peixoto era um político poderoso e muito respeitado. A hipótese mais aceita e provável é de que o noivo de Sophia, um agregado à família, chamado Manoel Batista Cepelos, era de fato filho de Peixoto, e ele em desespero de ver a filha casada com um irmão, e receoso de assumir o filho bastardo, decide dar fim ao dilema de forma trágica. É uma história pouco conhecida, mas muito interessante”.

Atualmente, Matteo e Octavio estão transferindo a sede da Refúgios Urbanos para um prédio modernista na Av. Angélica, e passarão a ocupar apenas uma das salas do Palacete Chavantes. Por conta disso, as outras 3 salas disponíveis podem ser alugadas por empresas que tenham o mesmo apreço pelo centro histórico. Em cada sala é possível acomodar empresas de 4 a 6 funcionários e o espaço permanece montado, incluindo mesas e a decoração incrível das áreas comuns, feita com muito garimpo na internet ou mercadinhos. Outra possibilidade para quem procura um escritório no centro é a antiga sede da dupla, no Palacete Gonzaga.

Para encontrar tantos imóveis únicos, o pessoal mantém a antena ligada. “A busca nunca acaba. Estamos sempre com a cabeça para cima, ‘conversando’ com a arquitetura da cidade. Cada detalhe pode revelar uma história interessante, ou dar um indício para que você possa pesquisar e descobrir algo. Somos esses incansáveis caçadores de tesouros, sejam apartamentos, escritórios ou simplesmente memórias guardadas que podem ser contadas”, falam. E para ajudar a contar todas essas histórias, a equipe também criou os livros Prédios de São Paulo, em cujas páginas muitos desses tesouros são desvendados. Para quem ama arquitetura como nós, conhecer mais de perto o trabalho da Refúgios Urbanos, é definitivamente, algo imperdível.

Fotos por Gisele Rampazzo