Last Updated on: 15th maio 2021, 07:42 pm

De forma inconsciente, as casas onde passamos a infância sempre acabam influenciando nosso lar no futuro, ou pelo menos nosso entendimento de lar. Com Lucas não foi diferente. Hoje, ele consegue perceber como vários conceitos que estiveram presentes no lugar onde cresceu são atualmente replicados no espaço em que vive. “Sempre tive em casa a presença da cultura material popular, mas sem excluir a produção mais contemporânea. Cresci com carrancas e ex-votos pendurados nas paredes e artistas contemporâneos aos meus pais, como Burle Marx. Apesar de nunca ter questionado tais referências, atualmente tenho consciência que, de certa forma, elas se exprimem no meu olhar”.

Desde então, a bagagem de Lucas cresceu muito, mas a arte continua sendo seu ponto de partida na concepção de espaços. O escritório no mezanino, por exemplo, foi tomado por livros ligados ao tema. “Além de catálogos de exposições contemporâneas, estou sempre garimpando publicações importantes para a historiografia da arte brasileira, como os catálogos das bienais, que coleciono desde a primeira edição. Recentemente, encontrei largado em um sebo, um com fotogramas da artista Claudia Andujar – um catálogo importante de uma artista seminal que inclusive poucos museus têm”, ele conta. É esse tipo de relíquia que atrai o morador, e muitas delas ficam concentradas na estante.

A área com pé-direito alto ajuda a trazer iluminação para o interior da casa, e de quebra as grandes paredes brancas servem de fundo para mais obras. Ainda no mezanino, uma estante em L sob a janela ajuda a acomodar mais títulos do morador. No quarto, a luz natural também é abundante e a ausência de forro faz com que o ambiente pareça ainda maior. A cama é cercada de obras, algumas que ainda não encontraram seu lugar na casa, e sobre ela fica uma bandeira bastante especial para Lucas.

“Gosto da presença dela no quarto. É uma bandeira do povo Fante de Gana, da primeira metade do século XX que comprei de uma colecionadora, em Nova Iorque. É uma peça curiosa, pois as tribos originárias do atual território de Gana não produziam uma representação simbólica nesse formato e, após a colonização, passaram a copiar as tropas inglesas adotando bandeiras como símbolo dos seus exércitos. Acho interessante, pois existe essa mistura de simbologias: a presença da Union Jack (cruz da bandeira inglesa) combinada com motivos tribais, neste caso, alguns elefantes”, explica.

Para Lucas, o lar tem a ver com a sensação de pertencimento afetivo. “Tanto em uma dimensão física, pela arquitetura acolhedora e a própria interação da casa com o entorno; quanto pelo simbólico, na relação histórica presente nos objetos e trabalhos”, define. Por isso cada elemento que compõe a casa tem seu porquê.

Fotos por Gisele Rampazzo