Last Updated on: 15th maio 2021, 07:44 pm

Uma casa e todas as memórias que ela guarda não podem ser resumidas de uma vez só, então por aqui fazemos diferente. Ao invés de concentrar todos os detalhes e fotos em uma única matéria, criamos pequenos capítulos para que você possa curtir essa visita durante vários dias. É só acompanhar a ordem pelo título dos posts e apreciar o passeio sem se preocupar com o relógio. 

Quem conhece as criações da estilista Flavia vai notar que sua casa tem tudo a ver com os conceitos aplicados em suas peças. Texturas naturais, tecidos aconchegantes e tons suaves tomam conta de todos os espaços e refletem o olhar sensível da moradora. Segundo ela, a decoração é totalmente influenciada por seu trabalho, e vice-versa. “Eu sempre trago trabalho do ateliê para casa, e no fim isso se mistura. Não fizemos uma decoração propriamente dita, foi acontecendo, conforme a vida vai passando. Sempre tenho tecidos e amostras espalhadas pelos cômodos, potes e panelas de testes que tenho feito”, ela diz.

Flavia e o marido, Renato, moram nesse apartamento há 4 anos, e desde então os ambientes vivem em constante evolução, conforme o casal vai descobrindo novas relíquias. O apê é antigo, mas tem uma carinha de casa, então os dois logo se apaixonaram por esse clima despretensioso do lugar. Para completar a aura poética, as janelas ficam na altura da copa das árvores, algo raro em São Paulo. “Nos encantamos com a luz, as varandas, a ventilação, o pé-direito alto… mas a verdade é que eu sempre quis morar nesse predinho. Quando vimos a placa paramos correndo para ligar para o corretor”, Flavia lembra.

O apartamento estava bem conservado e tinha uma configuração bacana, então o casal não precisou fazer muitas mudanças. Na varanda eles acrescentaram plantas e alguns móveis, como o banco de madeira que serve de apoio aos vasos, e na sala adicionaram prateleiras e peças menores. Flavia diz que não seguiu estilos ou referências específicas na hora de decorar, pois foi colocando seus objetos nos espaços de maneira orgânica. “Eu tenho uma relação bem afetiva com as coisas e elas sempre vêm de viagens, ou pessoas que conhecemos, etc…”, fala.

Como a estilista trabalha com têxtil e visita muitas comunidades fazendo pesquisas, vários de seus objetos queridos contam histórias de artesãs que ela conheceu pelo Brasil ou em outros países. Uma de suas rocas de madeira, por exemplo, foi trazida de Riachinho e feita pelo marido da dona Solange, artesã que ensinou Flavia a fiar. Nessa trajetória a moradora descobriu muitos locais mágicos: “O chapéu de Tucumã trazido de Urucureá me remete a um dos lugares mais lindos da vida e um dia em especial que ficou marcado na minha memória. Quando eu aprendi a tingir com crajiru em uma casa de palha, num braço de rio que é o paraíso para mim”, ela lembra.

Lojas de itens antigos também são locais onde o casal faz garimpos de vez em quando. “E também mandamos fazer coisas, como por exemplo o sofá, que foi um rabisco de papel com meu marceneiro”, Flavia conta. Aliás, o tapete da sala é uma criação da estilista, desenvolvido em parceria com o projeto Central Veredas, do Vale do Urucuia, em Minas Gerais. Todos os fios de algodão são fiados na roca, retorcidos à mão, tingidos com plantas e tecidos manualmente. Um trabalho muito artesanal que em breve será lançado pela marca da moradora.

“São tapetes e almofadas de xinil. Lançaremos sob encomenda. Vai levar 4 meses para o produto ficar pronto a partir do momento em que é feita a encomenda. Acho uma forma legal de construir esse afeto com a peça. Queremos enviar ao longo dos meses fotos do processo para trazer para o cliente a dimensão do tempo, do trabalho e do processo para manufaturar algo”.

Nem muito grande, nem muito pequena, a varanda tem o tamanho ideal para o casal. Eles queriam muito ter quintal e terra, então de certa forma essa área aberta representa esse desejo. Além de tomar sol na rede e cuidar das plantas, Flavia aproveita para testar novas mudas que possam ser usadas em seu trabalho também – afinal, a natureza é sua grande inspiração.

“Me sinto acolhida aqui. É uma casa para viver e uma casa muito viva. Inclusive por muitos momentos bagunçada. Eu e o Renato somos aquarianos”, ela brinca. Sem dúvidas, o apê tem essa naturalidade agradável, como se os detalhes do dia a dia aos poucos fossem ocupando cada pedacinho e deixando tudo ainda mais acolhedor. * Curtiu a história e quer saber mais? Então veja também o Capítulo 2!

Fotos por Gisele Rampazzo

CONTINUA