Last Updated on: 12th maio 2021, 10:01 pm

Bem-vindos à Casinha do Retiro Espiritual Cósmico, ou melhor, Casinha Cósmica para os íntimos. Foi assim que os moradores dessa casa antiga em Pinheiros batizaram seu lar, um espaço compartilhado entre 4 amigos com personalidades distintas. O nome foi escolhido cinco anos atrás pela fotógrafa Júlia Rodrigues, a primeira moradora, mas desde então muitas pessoas já passaram por aqui. O único que se manteve desde o início foi o jornalista e ilustrador Michell e hoje ele divide o sobrado com o fotógrafo de moda e designer Rafa, a artista multidisciplinar Renata e a jornalista Julia.

“Como todo mundo que morou aqui é meio artista, sempre tivemos histórias boas para contar. Teve gente que já disse que nossa casa era a versão contemporânea e brasileira da Factory, do Andy Warhol. São muitas fotos, muitas histórias e, ao todo, já moraram 9 pessoas. Sempre entendemos que somos uma família formada pela aleatoriedade da vida”, Michell diz.

Com uma boa localização, espaços na medida certa e um aluguel barato, a casinha tinha tudo para ser um lar incrível, o único porém era o estado precário da construção, incluindo paredes mofadas e um piso de cerâmica fria. Sem muita grana para investir em grandes reformas, os moradores foram driblando os defeitos do imóvel como podiam – na sala, por exemplo, o tapete encontrado em uma caçamba é usado para esconder o piso que ninguém gosta. “Nossa casa foi sendo montada com móveis que tínhamos oportunidade de comprar em ‘Família vende tudo’ ou no Exército da Salvação. Também achávamos cadeiras ou quadros descartados… achar coisas virou especialidade nossa”, ele conta.

Casinha Cósmica: um lar compartilhado

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Um quarto de cada cor

Aos poucos a casa foi ganhando novas cores e agora as paredes brancas ficaram para trás de vez. Tudo começou com o azul usado na cozinha, chamado carinhosamente de ‘Azul Bee’, em homenagem à Bee, uma das primeiras moradoras da casinha. “Depois de muito tempo, quando o Rafa já morava aqui, resolvemos pintar a sala de azul escuro. Deu tanta briga que teve até choro, mas depois todo mundo amou”, Michell lembra. Todos gostam bastante de paredes escuras, então até o quintal ganhou tinta preta – além de grama sintética e folhagens avermelhadas – para ficar mais acolhedor.

A ideia de usar tinta colorida deu tão certo que logo evoluiu para uma tradição: cada quarto é temático, seguindo a cor escolhida por seu dono. O de Renata é rosa e delicado como ela; o de Michell é todo verde e reflete seu olhar de esteta; o de Rafa foi pintado inteiramente de preto e o de Julia é vermelho. Por enquanto essas cores os representam, mas tudo sempre pode mudar na decoração da casinha. “Eu acredito que uma casa está em constante evolução, e aqui nós abraçamos esse caráter transitório. Nós mudamos e a casa muda com a gente, faz parte”.

Casinha Cósmica: um lar compartilhado

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O quarto rosa da Renata 

“Desde criança sempre gostei de rosa. Na infância usava muito essa cor, mas como fui uma adolescente que queria ser rebelde, rosa não era permitido nessa fase. Quando me mudei para cá, decidi que queria me sentir em casa, me sentir bem onde eu iria dormir, e o rosa veio à minha cabeça. Quando percebi, meu quarto inteiro estava assim. Acho que escolhi essa cor porque ela me traz paz, silêncio e tranquilidade. Assumir o rosa foi mais o meu encontro com a Miwa criança, que era uma pessoa que não se preocupava com o que os outros achavam dela e acreditava que ela poderia ser o que quisesse ser. É assim que eu me sinto em casa”, Renata fala.

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O quarto verde do Michell 

“O verde é a minha ‘cor oficial’ desde a infância. Minha mãe sempre usou esquema cromático para categorizar nossas coisas. Eu acredito que cada cor tem uma vibração, e verde, na minha concepção, é a cor da espontaneidade. Meu quarto sempre foi verde na minha casa em BH, de onde venho, e aqui continuou. Só resolvi apostar em um tom mais poderoso. Eu sempre fui maximalista. Sempre gostei de misturar e de ter mil coisas, mas percebi que precisava passar por uma fase mais minimalista. Daí tirei tudo e pintei tudo de verde, até o teto. Acho que isso é o mais minimalista que consigo.

Eu amo objetos garimpados, cheios de passados desconhecidos. Tenho insetos, tenho uma espada do séc. 19, tenho tapeçarias francesas, tenho objetos que eu mesmo fiz… são todos amuletos. Amo o exótico também, mas estou em uma fase de curtir o dourado e as formas puras. Uma vibe meio Art Déco minimalista meets gabinete de curiosidades, misturado com objetos de vime e uma energia boho, meio da floresta”, Michell define.

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O quarto preto do Rafa 

“O preto para mim sempre esteve presente. Acho que é um vestígio positivo da minha adolescência. Acho confortável, e como sou fotógrafo, passo a maior parte do tempo no meu quarto. É um ambiente que me tranquiliza e me mantém focado. Na minha opinião, o preto sempre faz melhores composições, tanto para decorar quanto na moda. É uma cor instigante, provocativa e fetichista. Na decoração, acho que sou o contrário dos outros moradores. Gosto de manter meu quarto com poucos itens e pequenos detalhes”, Rafa diz.

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O quarto vermelho da Julia  

Quando cheguei na casinha, tinha acabado de voltar de Londres. O quarto era cinza e me lembrava um pouco do céu da cidade que, apesar de eu ter amado por seis meses, queria deixar para trás. Eu precisava de uma cor que refletisse tanto o que eu estava sentindo e vivendo, um período novo e fértil na escrita, na pintura e na dança, quanto que me transmitisse a energia que eu buscava, algo vibrante e com muita força. Quando decidi que ia pintar o quarto tinha ficado entre um rosa queimado e o vermelho, mas o vermelho estava aparecendo muito na minha vida, então decidi pintar o quarto todo nesse tom – até os interruptores. Vermelho é a cor do sangue, da vida, da presença. Quando percebi que estava focada nessa energia de fazer e realizar coisas, não tive dúvidas”, Julia explica.

Fotos por Isadora Fabian, do Registro de Dia a Dia