Last Updated on: 16th maio 2021, 10:16 pm

Uma casa e todas as memórias que ela guarda não podem ser resumidas de uma vez só, então por aqui fazemos diferente. Ao invés de concentrar todos os detalhes e fotos em uma única matéria, criamos pequenos capítulos para que você possa curtir essa visita durante vários dias. É só acompanhar a ordem pelo título dos posts e apreciar o passeio sem se preocupar com o relógio. 

O piso colorido é a primeira das muitas surpresas desse apartamento na Av. Paulista, no coração de São Paulo. Ao invés de abraçar o clima urbano e fazer uma decoração nessa linha, a fotógrafa e documentarista Helena preferiu seguir o caminho contrário: “A localização do apê me encantou e assustou ao mesmo tempo. Mas já que eu ia morar no olho do furacão, quis construir um canto com outra energia; cheio de plantas e cores que me acalmassem da multidão lá embaixo”, ela explica. Do lado de fora, prédios e antenas; do lado de dentro, muita calmaria.

Quando Helena conheceu o apartamento ele estava bem diferente, mas nada que não pudesse ser resolvido com uma boa reforma – e para isso sua família recorreu ao arquiteto André Vainer, um grande amigo de seu pai. Muitas paredes foram quebradas, o pé-direito original foi mantido e novas cores e revestimentos entraram em cena, como o cimento queimado e a madeira clarinha usada nos armários e no guarda-corpo da escada.

Boas energias | Capítulo 1

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Helena nunca parou para pensar na decoração da casa, ela deixou tudo acontecer de forma bem improvisada e sem neuras. As referências que usou para criar seu lar não vieram de sites ou revistas, mas sim de sua própria vida – dos lugares onde cresceu e dos espaços onde sempre gostou de estar. “Algumas coisas que coloquei no primeiro dia de mudança só para me sentir em casa acabaram ficando até hoje. E o restante foi sendo meio angariado entre amigos ou com minhas irmãs, que estavam se mudando na mesma época. Foi sendo como dava, sem muitos investimentos mesmo”, ela conta.

Um dos móveis mais queridos da moradora é a estante antiga da sala. Primeiro porque a peça pertenceu à sua avó, segundo porque é ali que Helena consegue reunir um pouquinho de cada uma de suas paixões: seus livros, os discos e a vitrola, algumas plantas, fotografias e pequenos objetos de afeto ou que trazem proteção. “Lembro dessa estante no apartamento da minha avó no Bom Retiro quando eu era criança. Por sorte ela tinha exatamente o mesmo tamanho do pé-direito daqui”.

Boas energias | Capítulo 1

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A decoração também tem um quê oriental, mas isso aconteceu um pouco por acaso, um pouco por intuição. A mãe da moradora sempre gostou desse estilo, tanto que Helena e suas irmãs chegaram a dormir em tatames com futons quando eram crianças e as luminárias de papel da Liberdade viraram tradição nas casas da família. Outro detalhe que contribui para essa atmosfera meio zen do apê são as plantinhas – “Sempre gostei de plantas, mas nunca achei que daria certo, porém tenho descoberto que até levo jeito. Comecei com suculentas e aí minha mãe foi me dando umas mudinhas e eu fui cuidando. Para mim não tem prazer maior do que cozinhar e pegar uns ingredientes da horta de casa”, ela fala.

Boas energias | Capítulo 1

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Helena viaja muito e passa longos períodos fora do país, então sua relação com o lar é ao mesmo tempo de apego e desapego, de proximidade e distância. “Eu tenho lua em touro, o que me faz ser muito do cuidado, da casa, do aconchego. Gosto de coisas bonitas, coloridas; gosto de ouvir os discos, mas adoro vê-los e pegá-los; tenho essa parede só com quadros de amigos e da família, que vou mudando sempre. Pensando bem, acho que tenho uma relação bastante afetiva com os objetos. E adoro fotografar a luz dura que bate no chão da sala.

Mas ao mesmo tempo, tenho uma natureza e um trabalho que me levam a viajar muito, e não posso me apegar tanto. Não moro sozinha, moro com muita gente, quer dizer, muita gente já passou e morou aqui. Vira e mexe tiro tudo e saio fora e outra pessoa fica morando no meu quarto. Quero que o apê seja um lugar confortável e agradável para todos, não só para mim, então todo mundo que mora aqui traz um pouquinho de si. E isso me faz exercitar as duas forças opostas; de apego e cuidado, e de desapego e deixar fluir, deixar a casa existir por si”.

Fotos por Gisele Rampazzo

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