Last Updated on: 19th abril 2021, 03:36 pm

Uma casa e todas as memórias que ela guarda não podem ser resumidas de uma vez só, então por aqui fazemos diferente. Ao invés de concentrar todos os detalhes e fotos em uma única matéria, criamos pequenos capítulos para que você possa curtir essa visita durante vários dias. É só acompanhar a ordem pelo título dos posts e apreciar o passeio sem se preocupar com o relógio.

Uma cozinha detonada, acabamentos caindo aos pedaços, portas atacadas por cupins, instalações elétricas ultrapassadas, dois banheiros antigos com louças coloridas e ambientes compartimentados. Assim estava o apartamento de 135m² em Pinheiros na época em que o arquiteto Renato o encontrou. Acostumado a revitalizar cenários ainda mais complicados ao lado de Vivian, sua sócia no Estúdio Cada Um, Renato conseguiu enxergar o potencial daqueles espaços mesmo com tantos obstáculos. A recompensa chegou quatro meses depois, quando a reforma acabou e ele pôde começar uma nova fase cheia de boas surpresas.

Muita coisa foi mudada durante a obra, principalmente em termos de layout. Como o prédio tem cerca de 45 anos era natural que sua configuração não atendesse às necessidades da vida moderna, por isso Renato decidiu remover algumas paredes no living, integrando cozinha, sala e um dos três quartos em um único cômodo com múltiplas funções – receber, trabalhar, cozinhar, assistir televisão… Ele também inverteu a abertura do dormitório de empregada e do banheiro principal, transformando-os em um closet com suíte. Quanto aos revestimentos e móveis originais, só sobrou o que havia de mais bacana no imóvel: “Salvei o piso de tacos com paginação em formato de estrelas, que me fez apaixonar pelo apê, e a estante de madeira vazada, deixada de presente pelos ex-proprietários e restaurada por mim.”, revela o arquiteto.

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Após alguns meses morando sozinho Renato percebeu que fazia muito mais sentido que seu namorado, o designer e cozinheiro Jô Machado, também se mudasse para o apartamento – depois dele ainda veio Nina, uma golden retriever carinhosa que segue os donos pela casa. A essa altura os espaços já estavam um tanto dominados pelos móveis do arquiteto, que adora garimpar e substituir itens com o passar do tempo: “Quando mudei eu já tinha quase tudo, inclusive tive até que me desfazer de coisas que não cabiam no novo endereço. Com a chegada do Jô fizemos algumas adaptações, como colocar a escrivaninha na sala, e sempre que ele tem vontade de acrescentar algo na decoração, seja um quadro ou uma planta, eu dou um jeito de encaixar. Assim a casa fica com um pouco da cara de cada um.”.

Entre peças de design assinado, muitos quadros e objetos curiosos, os móveis vintage acabam ganhando destaque por conta de seus traços inusitados e do contraste que criam com o restante dos elementos. Além da estante, reposicionada após a reforma para servir de divisória, a mesa de jantar dos anos 60 foi comprada em um bazar e o buffet de madeira pertenceu à avó de Renato e foi repaginado por sua mãe há uns 15 anos. Já a mesa de centro com tampo branco leitoso nasceu de um improviso – o vidro foi encomendado para o box de uma cliente, porém veio na medida errada, então o morador o colocou sobre uma base de ferro-velho pintada com tinta spray cobre e voilà!

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Um dos trechos mais interessantes do living é a coluna de concreto coberta por inúmeras plantas, mas o engraçado é que ela nem deveria estar ali. A ideia inicial do arquiteto era tirar completamente a parede que dividia a antiga sala e o terceiro quarto, porém no meio do quebra-quebra ele descobriu um pilar que não poderia ser removido. Para assumir de vez a estrutura do prédio, Renato mandou os pedreiros descascarem toda a massa até chegar ao acabamento original.

Pouco tempo depois o casal começou a montar ali um jardim tímido, com apenas alguns vasos, mas logo a quantidade foi crescendo e eles criaram uma pequena selva. “Como não temos varanda, as plantas pelo menos dão um pouco de sensação de espaço aberto e complementam a árvore que toma conta da janela. Nós não somos os melhores jardineiros do mundo, já matamos algumas plantinhas, mas estamos aprendendo com o dia a dia.”, brinca o morador. O banco de obra que apoia parte dos vasos foi encontrado dentro de uma caçamba e resgatado por eles na mesma hora.

Na parede oposta estão concentrados os quadros preferidos de Renato e Jô. “Quadro sempre foi uma coisa que me faz enlouquecer. Nós trouxemos alguns de nossas viagens e andanças, desde gravuras de artistas locais até pôsteres tirados da rua ou fotos anônimas de brechós, mas acho que o mais curioso deles é um desenho feito com caneta Bic em um pedaço de papelão. O artista é um mendigo que vivia embaixo do primeiro prédio em que morei sozinho, no Itaim, e esse que enquadrei, junto com outros dois, ele desenhou e enfiou por baixo da porta do condomínio. Agora eles dividem espaço com obras de Renina Katz, Isabelle Tuchband, Nazareno e Maria Bonomi.”, diverte-se Renato.

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O medo de ousar nas cores, na quantidade de objetos ou na mistura de épocas nunca preocupou Renato – aliás, justamente o contrário. “Fico feliz que o resultado final não passa despercebido. Todo mundo que entra aqui comenta algo, mesmo quem tem um estilo muito diferente do meu. Mais do que ter uma personalidade marcante, acredito que o nosso apê conta uma história. Gostamos de lugares únicos e originais, e acho que conseguimos fazer isso aqui.”.

Fotos por Isadora Fabian, do Registro de Dia a Dia

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