Last Updated on: 21st abril 2021, 05:09 pm

Uma casa e todas as memórias que ela guarda não podem ser resumidas de uma vez só, então por aqui fazemos diferente. Ao invés de concentrar todos os detalhes e fotos em uma única matéria, criamos pequenos capítulos para que você possa curtir essa visita durante vários dias. É só acompanhar a ordem pelo título dos posts e apreciar o passeio sem se preocupar com o relógio. 

Crescer em uma casa construída pelos próprios pais nos anos 70, com muito vidro, espaços abertos e verde ao redor, despertou na ilustradora Cynthia um forte instinto criativo. Inspirada por essa atmosfera e também pelo conjunto de objetos peculiares colecionados por sua família, como máscaras trazidas de viagens, tapetes estampados e itens garimpados em feirinhas de antiguidade, Cynthia cursou Artes Plásticas para se aprofundar de vez no universo da criação. Em seu apartamento, que fica em Pinheiros, todo esse talento foi colocado à mostra: “Arrumar os ambientes e deixá-los acolhedores sempre aconteceu de forma natural para mim”.

Atualmente Cynthia mora com seu marido, o professor de yoga Joaquim, seu filho Tom, que está prestes a fazer dois anos, e as gatinhas Jasmin e Fagulha, porém quando ela comprou esse imóvel sua realidade era bem diferente. A história da ilustradora dentro do apê começou em 2008, após um ano inteiro de cansativas visitas e reuniões com corretores. Apaixonada pela região e, mais especificamente, por um quarteirão muito arborizado do bairro, ela vivia interfonando nos prédios para perguntar se algum proprietário pretendia colocar seu espaço à venda. Em uma dessas tentativas, ela finalmente deu sorte.

Três meses depois, a primeira reforma do apartamento começou. Sem medo de enfrentar o quebra-quebra, a moradora removeu quase todas as paredes que podia: a cozinha passou a fazer parte da sala de estar, assim como um dos três dormitórios originais, ampliando completamente o cômodo e trazendo mais luz natural ao seu interior; os outros dois quartos foram integrados e se transformaram em um único ambiente, confortável à beça e muito iluminado; e os banheiros também foram alterados, ganhando novos revestimentos. A obra permitiu que Cynthia montasse no centro do living um escritório grande o suficiente para ela espalhar seus materiais de pintura, seus livros de referência e seu computador, outro instrumento de trabalho.

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Muitos dos móveis usados na decoração já pertenciam à ilustradora ou foram criados com a ajuda de seu pai, um aviador que tinha a marcenaria como principal hobby. A bancada do lavabo, as prateleiras feitas com portas antigas e o cabideiro na entrada, por exemplo, são invenções suas. Também herdadas dele, a hélice de madeira fazia parte de um avião antigo que ele pilotava com 20 e poucos anos e a cadeira de balanço era de sua casa no litoral: “Eu sempre ficava de olho na cadeira quando ia visitá-lo em Ilhabela e brincava dizendo que queria ela pra mim. Ele ria e dizia que não, mas um dia finalmente me deu a peça. Foi o melhor presente que poderia ter ganhado, tanto que até hoje a uso para ninar o Tom”, conta a moradora com orgulho.

Ter uma cozinha aberta era algo que Cynthia queria muito desde antes da mudança, porém ela não contava com o destaque que os antigos armários de Formica bege teriam nessa nova configuração. Se antes ninguém reparava neles, com a derrubada da parede aquela cor meio estranha chamaria a atenção de qualquer um – e isso começou a lhe incomodar. Com a verba da reforma quase no fim, a melhor solução que ela encontrou para disfarçar o problema sem gastar muito foi forrar as portas com papel estampado azul. No fim o resultado ficou tão bacana que a ideia, até então passageira, foi mantida até agora.

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Há mais ou menos quatro anos e meio, época em que o apê já estava completo e organizado, o enredo dessa história deu uma reviravolta. Em um dia como outro qualquer, Cynthia estava andando pela rua quando cruzou sem querer com Joaquim – seu antigo namorado da adolescência. O casal passou exatos 18 anos sem se ver, mas o reencontro repentino reacendeu aquele amor da juventude e eles decidiram retomar de onde haviam parado. Pouco tempo depois, Joaquim estava se mudando para o mesmo endereço da moradora.

Assim que a ilustradora ficou grávida de Tom, os dois sabiam que uma nova reforma estava a caminho, no entanto dessa vez as alterações seriam bem mais discretas. O quarto amplo voltou a ser dividido em dois, um para o casal e um menorzinho para o filho, e a passagem do corredor foi fechada com uma porta pivotante de Formica cinza para isolar o som da sala enquanto o bebê estivesse dormindo. A escolha do material aconteceu por conta dos outros móveis de Formica, que, aliás, são os itens preferidos de Cynthia: sua estante com prateleiras vermelhas, encaixada em um nicho na alvenaria; a mesa de jantar, restaurada recentemente; e a cabeceira da cama, em amarelo vivo.

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Contente com o universo alegre e descomplicado que conseguiu criar para sua família, a moradora diz que a inspiração vem da própria vida e das soluções que ela demanda: “A bicicleta é o meio de transporte? Então estaciona na sala e integra com o resto. As gatas deram uma destruída no sofá? Joga um pano bonito em cima, que está tudo certo. O filho nasceu? Faz o cesto africano guardar as 27 bolas do guri… e por aí vai!”, revela. Aconchegante e adaptável, o apartamento do casal é um lugar sem frescuras ou regras bobas – aqui o que vale mesmo é ser feliz.

Fotos por Alessandro Guimarães

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