Last Updated on: 27th abril 2021, 05:22 pm

Uma casa e todas as memórias que ela guarda não podem ser resumidas de uma vez só, então por aqui fazemos diferente. Ao invés de concentrar todos os detalhes e fotos em uma única matéria, criamos pequenos capítulos para que você possa curtir essa visita durante vários dias. É só acompanhar a ordem pelo título dos posts e apreciar o passeio sem se preocupar com o relógio.

Quando a fotógrafa Julia conheceu o artista plástico Christian ela vivia no Rio de Janeiro e ele em São Paulo. Apaixonados, não demorou muito até que resolvessem dividir o mesmo teto: “A decisão de morar junto foi quase automática. Namoro à distância tem isso, as coisas tendem a ser um pouco mais aceleradas.”, brinca ela. Hoje, mais de cinco anos depois, o casal cultiva com carinho o apartamento de 95 m² em Pinheiros, compartilhado ainda com os gatinhos Stopa e Loki.

Bem iluminada e com poucas divisórias, a morada dos dois, ou melhor, dos quatro, tem vários cantos aconchegantes, só que nem sempre foi assim. O prédio baixinho e sem elevador construído nos anos 50 encantou Julia e Chris, porém o apê escolhido por eles era o único que nunca havia sido reformado, por isso a distribuição de cômodos era estranha e ultrapassada. Além de muitas paredes e portas desnecessárias, as janelas e esquadrias estavam meio podres e o piso de taco parecia não ter mais solução. O casal sabia que seria um desafio transformar esse imóvel precário em uma casa dos sonhos, mas eles não tiveram medo de tentar. E não é que conseguiram?

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Obras desse porte, em que diversas paredes são demolidas, não costumam ser rápidas ou simples, principalmente para quem não tem experiência no assunto. O que salvou o casal de longas dores de cabeça foi a participação da arquiteta Luciana Zion, que é prima do Chris. Além de já conhecer o estilo dos dois e entender exatamente o que queriam, ela os orientou no layout geral e na escolha de alguns revestimentos. Espertinhos, Julia e Chris ainda aproveitaram a camaradagem dos vizinhos para espiar e conversar sobre as reformas que foram feitas nas outras unidades do prédio – assim puderam aprender com os erros e acertos dos outros.

Sem afobação, os moradores foram decidindo boa parte das mudanças conforme elas iam sendo executadas. O cimento queimado, por exemplo, ainda não tinha posição definida quando a equipe contratada para o serviço chegou ao endereço pronta para colocar a mão na massa. A ideia inicial era usar o acabamento no quarto, porém de última hora Julia e Chris resolveram aplicá-lo na sala de estar, o que hoje reconhecem ter sido um grande acerto. Eles curtiram tanto o resultado que não tiveram coragem de furar a parede para pendurar os quadros atrás do sofá.

O cinza do cimento acabou inclusive determinando as cores que seriam usadas na decoração: “Não tínhamos nada especifico na cabeça, então as escolhas foram bem fluidas.”, conta a fotógrafa.  Para valorizar também o tom clarinho da madeira dos tacos – sim, eles puderam ser restaurados! – e evitar um visual cansativo, o casal pintou tudo de branco e foi colorindo o apartamento aos poucos, através de objetos, tapetes, luminárias e móveis.

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De origens distintas, os móveis do apê formam um apanhado de achados bacanas com histórias de sobra. A começar pelo sofá, um dos itens preferidos de Julia, que pertencia a uma amiga querida que estava saindo do Brasil e pretendia deixar suas peças de família com alguém que fosse cuidar muito bem delas. Feita a partir de uma caixa de bacalhau reaproveitada, a mesinha de centro é criação de outro amigo, o artista Renato Larini. Já a cristaleira, arrematada em um leilão em Petrópolis por uma pechinha, é também uma prova de amor materno: em pleno domingo de carnaval, a mãe da moradora pegou a estrada do Rio até São Paulo debaixo de chuva para trazer o móvel até ela.

A cadeira de balanço, disputada pelos gatos, foi da bisavó da fotógrafa e durante 20 anos esteve com sua tia, que cuidou com carinho da peça. Logo ao lado a mesa rústica de madeira foi emprestada por um amigo do Chris, mas se depender de Julia ela não sai de lá tão cedo. Até mesmo os tapetes são herança, já que foram doados pela mãe do morador.

Espalhados por quase todas as paredes, os quadros também têm um grande valor afetivo. Além de telas e fotografias assinadas pelo próprio Christian, o casal expõe com orgulho obras do pintor uruguaio Luis Diaz, conhecido da família, uma gravura de Marcelo Grassman presenteada por ele mesmo, uma serigrafia de Fefe Talavera comprada em um bazar e um pôster do filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, clássico do cinema brasileiro. Isso sem falar dos quadros trazidos de uma viagem a Cuba, como as serigrafias do artista Portocarrero e uma obra de Wilfredo Lam achada em uma mini galeria atrás de um cinema de rua em Havana.

Apaixonada por máscaras artesanais, Julia começou uma espécie de coleção que acabou se transformando em uma forma de resgatar as memórias de suas viagens. Do México veio uma caveira amarela de madeira, da Tailândia uma versão tradicional da região e de Cuba uma máscara improvisada em um vaso de cerâmica que não deu certo. O casal também costuma garimpar chocalhos diferentes e tabuleiros de xadrez trabalhados por onde passam.

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Uma das lembranças mais queridas da infância de Chris era a vitrola Garrard de seu pai, por isso ele ficou extasiado quando conseguiu encontrar um modelo original da mesma marca e que pertenceu a um único dono. Com tamanha preciosidade, o cantinho musical do apartamento virou motivo de orgulho – é ali que os moradores se jogam sobre as almofadas no chão para curtir um som e brincar com os bichanos aproveitando o sol da tarde.

Simples e aconchegante, esse apê convida a Julia e o Christian a deixar a correria do lado de fora e aproveitar a rotina na melhor companhia possível. Gostou e quer mais? Amanhã publicamos a segunda parte da história, não perca.

Fotos por Isadora Fabian

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