Last Updated on: 27th abril 2021, 05:33 pm

Mesmo sem ter arquitetos na família ou ter nascido com um dom natural para o desenho, Cecilia sempre soube que seguiria essa carreira. Quando criança descobriu a beleza da arquitetura moderna ao frequentar uma residência projetada por Rino Levi no litoral de São Paulo. Mais tarde se apaixonou pelo trabalho de Paulo Mendes da Rocha e alguns profissionais japoneses renomados, como Sou Fujimoto e Tadao Ando. Com tantas referências bacanas, não é de se estranhar que ela tenha escolhido morar em um prédio modernista construído no final dos anos 50 no meio da Avenida Paulista. Perdeu o começo da história? Leia também o Capítulo 1 e saiba mais detalhes desse apê.

Durante toda a infância Cecilia viveu em uma casa ampla no Pacaembu e aproveitou muito seus espaços – tanto que até hoje ela se lembra de subir no pé de amoreira, brincar na mesa do jardim ou organizar festinhas que ocupavam a sala de estar. Apesar de ter crescido nesse clima de interior, a arquiteta não teve receios de se mudar para um dos pontos mais agitados da cidade. “Na época eu pensei: se é para morar em um apartamento, que ele seja bem urbano!”, lembra ela. E não dá pra negar que a missão foi cumprida!

decoracao-arquitetura-pauliceia-historiasdecasa-21

decoracao-arquitetura-pauliceia-historiasdecasa-22

decoracao-arquitetura-pauliceia-historiasdecasa-23

decoracao-arquitetura-pauliceia-historiasdecasa-24

decoracao-arquitetura-pauliceia-historiasdecasa-25

decoracao-arquitetura-pauliceia-historiasdecasa--cozinha-20

Antes da reforma realizada pela moradora o apê possuía vários tipos de piso: tacos no living, carpete nos quartos e azulejos na cozinha. Para deixar o visual dos ambientes mais uniforme e ainda valorizar a integração, ela decidiu substituir tudo por cimento queimado, que mantém a casa fresquinha e, além disso, não exige muita manutenção. Fã de ladrilhos hidráulicos, encomendou para a cozinha um modelo exatamente igual ao revestimento usado no pátio central do prédio, porém em outras tonalidades. Quando esteve na fábrica para procurar a estampa certa, Cecilia aproveitou para testar diferentes combinações de cores – meio por acaso, elas acabaram definindo o restante da decoração.

Como todo mundo que está montando um apartamento, a arquiteta também enfrentou seus dilemas, principalmente na cozinha. Cecilia gosta muito de cozinhar e conversar com os amigos enquanto prepara os pratos, então para ela era importantíssimo manter essa interação e de quebra ainda fazer as pessoas se sentirem totalmente à vontade. Sua maior dúvida era criar um balcão alto ou encaixar uma pequena mesa de jantar ali – pelas fotos nota-se que ela ficou com a primeira opção. Agora além de receber bem os convidados ela pode organizar suas travessas e livros de receita na estante que fica em frente à ilha com fogão embutido.

decoracao-arquitetura-pauliceia-historiasdecasa-26

decoracao-arquitetura-pauliceia-historiasdecasa-27

decoracao-arquitetura-pauliceia-historiasdecasa-29

decoracao-arquitetura-pauliceia-historiasdecasa-30

decoracao-arquitetura-pauliceia-historiasdecasa-31

decoracao-arquitetura-pauliceia-historiasdecasa-32

decoracao-arquitetura-pauliceia-historiasdecasa-33

Durante a obra a moradora planejou a criação de um closet próximo à entrada do dormitório do casal, isolado por uma parede com pintura branquinha como as outras: “Acho gostoso não ter os armários dentro do quarto. Assim ele se transforma em um lugar exclusivo para relaxar e desligar de tudo”. Sob a janela, que vai de ponta a ponta, um móvel baixinho acomoda itens extras sem bloquear a iluminação natural. O aconchego desse espaço é garantido pela junção de três elementos com carga afetiva: a colcha de retalhos, que mesmo velhinha continua a encantar com suas cores e estampas; o tecido trabalhado fixado na parede e a cabeceira de madeira e palhinha arrematada em um “família vende tudo” e restaurada por Cecilia.

Atrás de uma porta discreta na sala de estar, um ambiente apertadinho, porém repleto de carinho, fica o ninho do pequeno Tomaz, de apenas um ano e meio. Na época em que se mudou para o apartamento a arquiteta já havia previsto a necessidade desse segundo quarto, por isso o lavabo ganhou um chuveiro e uma porta de correr para atender não só as visitas, mas também o futuro morador. Com isso adiantado, a planta não sofreu grandes alterações após a chegada do bebê – em apenas 10 dias os cômodos estavam prontos para recebê-lo com muita luz, brinquedinhos e conforto.

decoracao-arquitetura-pauliceia-historiasdecasa-35

decoracao-arquitetura-pauliceia-historiasdecasa-36

decoracao-arquitetura-pauliceia-historiasdecasa-37

decoracao-arquitetura-pauliceia-historiasdecasa-38

decoracao-arquitetura-pauliceia-historiasdecasa-39

decoracao-arquitetura-pauliceia-historiasdecasa-40

decoracao-arquitetura-pauliceia-historiasdecasa-41

A arquitetura e a localização do prédio onde Cecilia mora sem dúvida são inspiradoras, só que a decoração não fica atrás em nenhum momento. Estampas de tapetes, azulejos e cerâmicas se misturam às cores pontuais das fotografias e lombadas dos livros, além dos móveis com pegada étnica, compondo um arranjo que faz lembrar não só o período vivido na China, mas todas as referências acumuladas pelo casal ao longo dos anos. Mesmo recheada de coisas, a casa ainda tem muito espaço para novas histórias.

Fotos por Alessandro Guimarães