Last Updated on: 27th abril 2021, 06:49 pm

Uma casa e todas as memórias que ela guarda não podem ser resumidas de uma vez só, então por aqui fazemos diferente. Ao invés de concentrar todos os detalhes e fotos em uma única matéria, criamos pequenos capítulos para que você possa curtir essa visita durante vários dias. É só acompanhar a ordem pelo título dos posts e apreciar o passeio sem se preocupar com o relógio. 

Aconchego, dedicação, amor. Essas três palavras definem bem a atmosfera do lugar onde a fotógrafa Isadora vive com seu namorado, o produtor musical Fábio, e sua mascote, a agitada vira-lata Lucy. Apesar das paredes de vidro, do tijolinho e da tubulação aparente, todos elementos com ares de loft, a casinha nos fundos do terreno tem um pouco de clima do interior, com um pé de acerola do lado de fora da cozinha, móveis reaproveitados e uma aura de simplicidade que se espalha por todos os cantos.

Juntos há mais de 5 anos, Isa e Fábio não chegaram a planejar que morariam juntos – a coisa simplesmente aconteceu: “Sempre nos sentimos em casa um com o outro. Então fui indo, indo, indo e quando vi meu guarda-roupa estava no apartamento dele”, lembra ela. O primeiro endereço do casal ficava no coração da Vila Madalena, entre a movimentada vida noturna e a tranquilidade das ruas durante o dia. Apesar de adorarem a localização, eles logo perceberam que precisavam de mais espaço para conseguir montar dois estúdios, um de música e um de fotografia. Enquanto procuravam um imóvel maior para alugar, Fábio ficou sabendo que seu prédio estava valorizado e que um apê ali poderia valer quatro vezes a quantia paga originalmente. Sem pensar duas vezes os dois colocaram o apartamento à venda e começaram a busca por uma casa ampla e confortável para morar e trabalhar.

Não demorou muito para que Isa e Fábio encontrassem o lugar ideal para essa nova fase. Algumas pesquisas na internet e poucas visitas depois, lá estavam eles comprando um terreno em Pinheiros com uma construção antiga e uma edícula cheia de potencial. A reforma era inevitável e ambos sabiam disso, mas de alguma maneira sentiram que essa seria sua melhor opção. Com 250 m² somando os dois blocos, a casa os conquistou principalmente pelo espaço aberto com plantas e árvores frutíferas, como uma pitangueira e os pés de mexerica e fruta do conde. Para quem queria calmaria no meio da cidade, esse cenário foi motivo suficiente.

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Como é comum acontecer em imóveis velhos e mal conservados, os cômodos tinham vários probleminhas, como goteiras, vazamentos e esquadrias desgastadas. Fazer toda essa manutenção custaria muito caro e o casal já havia gastado a maior parte do dinheiro na compra da casa, por isso eles tomaram uma decisão improvável: iriam reformar primeiro a edícula para que pudessem se acomodar melhor por lá e economizar.

Com a ajuda de um arquiteto Isa e Fábio conseguiram distribuir as funções de cada ambiente e ainda promover diversas alterações estruturais. A construção original, que era térrea, ganhou um novo andar para abrigar o quarto, o banheiro e um pequeno mezanino que aproveita a altura do vão da escada. Vigas de sustentação entraram em cena, assim como uma parede de tijolinhos, a tubulação elétrica aparente e o guarda-corpo metálico no piso superior. Nesse processo, nem mesmo o jardim escapou das mudanças. Aliás, foram tantos detalhes que a obra que era para ter durado apenas 3 meses, se estendeu por 7.

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Munidos de diversas referências salvas na memória e no computador, os moradores já tinham uma ideia de tudo o que queriam, porém a vida sempre arranja uma forma de nos desafiar e nos ensinar a ceder. Com orçamento apertado, a maior dificuldade do casal foi aliar expectativa com realidade. O piso, por exemplo, era para ser de madeira ou de cimento queimado, mas o custo alto desses revestimentos levou à escolha de um porcelanato acinzentado que reproduz um efeito parecido. Os azulejos brancos da cozinha e da parede do banheiro foram os mais baratos que encontraram, no entanto para compensar eles pediram aos pedreiros que assentassem tudo na diagonal, como muitos bares da Vila Madalena costumam fazer. Já os tijolos vieram de uma casa que pertencia ao pai de Isa e que foi demolida bem antes da reforma começar.

Sabendo das infinitas possibilidades do reaproveitamento de materiais, Isa e Fábio não desperdiçam itens usados e nunca passam por uma caçamba sem dar uma pequena espiada em seu conteúdo. Desde que iniciaram o projeto eles espalharam para todos os amigos e conhecidos o que pretendiam fazer, então muitos deles puderam colaborar com verdadeiros achados. Além de caixotes, paletes e restos de madeira, o destino os apresentou a móveis vintage em bom estado do jeitinho que Isa queria:

“Sempre fui apaixonada por armários provençais e queria muito um no quarto. Procurei em algumas lojas e todos eram caros demais para nós, então eu já tinha me conformado que não o teria tão cedo. Até que o pedreiro que estava nos auxiliando na obra ligou dizendo que uma casa estava sendo demolida na sua rua e que iriam jogar alguns móveis fora. Fomos voando até lá! Por incrível que pareça achamos o armário que eu imaginava. Ele tem alguns pontos gastos pelo tempo, mas eu amo. Ali encontramos também o móvel do banheiro, que era cinza e eu o lixei até chegar sem querer a um tom de azul. Colocamos apenas os puxadores e reformamos a estrutura dele. Nesse mesmo dia ainda pegamos uma peça detonada que estamos restaurando e em breve estará na sala. Não vejo a hora de terminarmos ela!”.

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Ao invés de desanimar quando percebeu que não teria muita grana para a decoração, Isa resolveu arregaçar as mangas. Ela customizou suas almofadas lisas de algodão com uma caneta de tecido e frases bacanas, fez uma bandeirinha com um trecho de uma música dos Beatles, criou suportes de vasos apenas com barbante, pintou molduras de R$ 1,99 com tinta spray para montar uma parede galeria, criou quadros usando madeira e imagens impressas, bordou uma arte fofa em um bastidor… e isso são só algumas de suas ideias. Ainda têm os tapetes, garimpados em lojas baratinhas e um “família vende tudo”.

Entre tantos detalhes queridos, existem dois que falam ainda mais alto ao coração. O primeiro é o gabinete da cozinha, executado pelo próprio casal em menos de uma semana e inspirado em um dos cenários da série Friends. Foram noites de trabalho e conversa até que eles finalmente instalaram a peça: “Nesse dia, chorei. O que mais eu poderia fazer? A gente tinha conseguido. O gabinete tem marcas e alguns defeitinhos, mas essa é a nossa história, perfeitamente imperfeita”, conta Isa. O segundo elemento também tem a ver com emoção. A fotógrafa sempre amou o som do violino, porém não sabia se conseguiria aprender a tocar esse instrumento por ele ser tão diferente de outros. Para incentivá-la, Fábio comprou um modelo e lhe deu de presente de aniversário. “Também chorei muito. Não só pelo violino concreto, mas porque para mim ele dizia: você consegue qualquer coisa que quiser fazer. E esse é o tipo de parceiro que a gente tem que ter na vida, o que nos enxerga indo além quando nem a gente consegue”.

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Suor, paciência, conquista. Outras três palavras que combinam com Isadora e Fábio e que servem para lembrar que todo lar precisa de carinho e esforço para florescer. A casinha nos fundos, repleta de coisas rústicas e às vezes até brutas, combina com o casal e seu estilo de vida. “Mesmo com alguns defeitos, posso dizer que nos enche de alegria saber que investimos aqui não só nosso tempo e dinheiro, mas nosso coração. Em cada cantinho vejo um pouco de nós e cada mínimo detalhe da decoração tem as nossas digitais”, resume a apaixonada moradora.

Acredita que essa história está apenas no começo? Acompanhe o próximo capítulo durante a semana aqui no blog e veja muitas outras fotos lindas.

Fotos por Rafaela Paoli

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